O abastecimento de milho para a suinocultura do Brasil só deve voltar a se normalizar em meados de 2013, com a chegada do cereal de segunda safra, já que no cultivo de verão a preferência dos produtores foi pela soja, disse na quinta-feira o presidente da associação que reúne os criadores.
"O primeiro semestre já está comprometido, porque no (cultivo de) verão todo mundo vai para a soja... O abastecimento de milho só se regulariza a partir de junho, julho, quando começa a entrar (o milho) safrinha", disse Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos a jornalistas.
Lopes, que participou de conferência reunindo representantes do setor em São Paulo, alertou que o governo precisa pensar uma política para garantir o abastecimento de milho e soja para o setor a fim de não comprometer a competitividade do setor.
Neste ano, os produtores de proteína animal --especialmente criadores de aves e suínos concentrados no Sul do país-- viram os preços dos insumos dispararem após quebra da safra de grãos no Sul do país, por conta do clima seco no início do ano.
Embora o Brasil tenha tido uma safra recorde de milho, o maior volume da produção ficou concentrado no Centro-Oeste do país, distante das áreas de criação de aves e suínos na região Sul.
Em 2012 também houve volume recorde de exportações de milho , deixando os preços internos alinhados com as elevadas cotações internacionais.
Lopes afirma que os preços do milho, principal insumo da ração, seguem elevados. Como exemplo, diz ele, no Nordeste a saca de 60 kg sai por até 50 reais e no Rio Grande do Sul, importante produtor, a safra está sendo adquirida por entre 38 a 39 reais.
Tal cenário foi agravado, segundo ele, pela falta de caminhões para transportar os grãos para áreas com déficit de oferta, quando o governo pensou em recorrer ao exército para escoar o produto até estas áreas mais afetadas.
ENTRAVES
O diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos (Sips-RS), Rogério Kerber, acrescenta que 2012 trouxe à tona dois pontos importantes para o setor.
"Primeiro, a falta de uma política de suprimento do milho para atender ao setor produtivo (carnes)", afirmou Kerber.
Outro ponto altamente negativo, disse ele, foi a demora na resolução da questão do embargo parcial russo, iniciado em junho de 2011.
"Foi um embate entre as autoridades veterinárias da Rússia e do Brasil... O Rio Grande do Sul pagou o preço pelo embargo (parcial) russo", afirmou.
A Rússia era o principal destino dos embarques de carne suína do Rio Grande do Sul, e tinha antes do embargo uma fatia equivalente a 70 por cento do total exportado pelo Estado.
Kerber observou, contudo, que mesmo com os entraves oriundos da suspensão russa, o Estado manteve a produção e apontou a importância do mercado interno.
Em 2012, o brasileiro consumiu em média 15 kg de carne suína no ano, estável ante o ano anterior. Mas para 2013, a expectativa é de aumento, podendo chegar a até 18 kg de carne/ano por pessoa, segundo os executivos.
"Comemoramos em 2012 uma resposta altamente positiva do mercado brasileiro... Apesar do aumento do custo, tivemos uma resposta da demanda interna, que permite que o Rio Grande do Sul siga produzindo", explicou.
O Brasil deve encerrar 2012 com produção de 3,49 milhões de toneladas de carne suína, alta de 2,5 por cento ante o ano anterior, segundo dados da Abipecs. Para o próximo ano, a expectativa é de pequena elevação na produção, porque o setor ainda sofre com os custos elevados.
Fonte: Reuters