A época de semeadura é um dos fatores que mais influenciam no rendimento da soja. Na região fria do Sul (estados de Santa Catarina e Rio grande do Sul), os melhores resultados na soja têm sido obtidos em semeaduras entre 15/10 a 15/11, quando a temperatura e a radiação solar entram em elevação estimulando o desenvolvimento da planta. Mas para chegar ao máximo rendimento na soja é preciso conhecer o potencial genético da cultivar, o histórico da lavoura e identificar o manejo mais adequado do sistema produtivo ao longo do ano.
A época indicada como preferencial para semeadura de soja é estabelecida em função do período de crescimento vegetativo e acúmulo de massa foliar coincidir com o período de maior radiação solar. “A maioria das atuais cultivares comerciais respondem ao fotoperíodo (luz) e à temperatura (do ar e do solo). Para estes genótipos, semeaduras anteriores às da época preferencial resultam em maior crescimento vegetativo e alongamento do ciclo, por vezes próximo à 50 dias, fato que não é interessante em sistemas cada vez mais intensivos de produção”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Mércio Luiz Strieder. Por outro lado, em semeaduras mais tardias a tendência é ocorrer o inverso, ou seja, reduzidos crescimento de planta e encurtamento de ciclo próximo à 30 dias. Segundo o pesquisador, ambas as situações (semeaduras antecipadas e tardias) implicam em menor potencial de rendimento de grãos.
Apesar das indicações técnicas da pesquisa para o cultivo da soja na melhor época, semeaduras tardias (após a época preferencial) ainda são frequentes na região fria do Sul, devido à colheita tardia de culturas de inverno ou eventuais condições climáticas adversas. Considerando a redução de tempo no processo colher-semear em sistemas de produção cada vez mais intensivos, explica-se a preferência dos produtores do Sul por cultivares de ciclo precoce: “Em qualquer cultivar, a semeadura na época preferencial permite maior interceptação da radiação solar incidente e melhor eficiência fotossintética, justamente numa fase importante, o período de florescimento da soja. Como nas cultivares precoces o período de crescimento vegetativo é menor em relação às cultivares tardias, o desenvolvimento é acelerado, tornando possível esperar até novembro para semear a soja após a colheita do trigo”, explica o pesquisador Mércio Luiz Strieder.
Neste ano os produtores gaúchos estão passando por uma situação atípica. Em função das frustrações com o clima no trigo e no milho, muitos dessecaram as lavouras de cereais fazendo a semeadura da soja antes do previsto. Neste caso, a orientação da pesquisa é investir em cultivares de ciclo precoce ou semiprecoce (grupo de maturidade entre 5.5 e 6.5), observando a população de plantas indicada pelo obtentor para cada cultivar. Outro fator que merece atenção é a previsão de bom volume de chuvas no verão, o que pode estimular o desenvolvimento de algumas cultivares e torná-las sensíveis ao acamamento.
ESCOLHA DA CULTIVAR
“Cada cultivar é uma tecnologia. Não é possível regular a máquina para plantar todo tipo de material. Precisamos avaliar o espaçamento, altitude, fertilidade, reação a doenças, sistemas de rotação de culturas, previsão de chuva ou seca, época de semeadura. São diversos fatores a considerar ainda na compra da semente. Na descrição de cada cultivar estão delimitados muitos destes fatores”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Bertagnolli. Ele alerta que o produtor deve selecionar cultivares com alto potencial de rendimento, mas que sejam adaptadas para o seu ambiente de cultivo. Isto é possível avaliando o comportamento da cultivar em diversos locais através das informações disponíveis com o obtentor ou mesmo reservando pequena área na lavoura para avaliar o desempenho de diferentes cultivares.
Na última década, cultivares de ciclo precoce e de tipo de crescimento indeterminado conquistaram a preferência do produtor. Contudo, não existem resultados de pesquisa que atestem a superioridade destes materiais nas lavouras. Experimentos realizados pela Embrapa Trigo em cinco épocas de semeadura (setembro, outubro, novembro, dezembro e janeiro) mostraram que o rendimento de grãos de genótipos com tipo de crescimento determinado foi pouco superior a genótipos de tipo indeterminados, mas a diferença não chegou a ser estatisticamente significativa. “Cultivares de tipo determinado ou indeterminado têm mostrado o mesmo resultado em rendimento. O importante é a disponibilidade adequada de todos os recursos necessários para o pleno desenvolvimento da soja durante todo ciclo, embora alguns estádios sejam mais críticos, como o fator água durante o enchimento de grãos. Ou seja, a disponibilidade de recursos em cada ambiente vai determinar o comportamento diferente das cultivares”, esclarece o pesquisador Mércio Luiz Strieder.
Fonte e Foto: Embrapa Trigo