A safra de soja que já começa a ser plantada no país deve atrair boa parte da atenção mundial no mercado do agronegócio. Com a quebra da produção norte-americana 2012/13, devido à estiagem, o Brasil é candidato único ao primeiro lugar no ranking de produção e exportação. A liderança é circunstancial, afirmam analistas. Ou seja, motivada pelas condições adversas nos Estados Unidos e não por méritos verde-amarelos. Ao menos, por enquanto.
— Não fosse a quebra norte-americana, o Brasil continuaria a ocupar o posto de segundo maior produtor, mesmo com o aumento na área plantada previsto para 2012/13 — afirma Daniele Siqueira, analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.
A AgRural projeta uma área de 27,9 milhões de hectares, ante 25 milhões em 2011/12. O clima é essencial para ratificar a expectativa de produção e de conquista real do primeiro lugar. O fenômeno El Nino tende a trazer normalidade, apontam as previsões meteorológicas.
— Na temporada 2011/2012, a área plantada no Brasil aumentou em relação à 2010/2011. Mas a produção recorde não ocorreu devido à falta de chuva. No sul do país, as perdas chegaram a mais de 50% — lembra Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria.
À perspectiva de liderança no mercado produtor e exportador, soma-se uma euforia com os preços recordes atingidos na Bolsa de Chicago e mesmo no Brasil, motivados pela escassez do produto.
— A euforia também se aplica quando consideramos a rapidez da comercialização, com chance de rentabilidade recorde para o produtor, e o consequente aumento de área nesta safra — avalia Daniele.
Até o final de agosto, segundo levantamento da AgRural, 53% da nova safra brasileira já estava vendida, contra 26% no mesmo período de 2011. No caso do Rio Grande do Sul, a venda estava em 35% (ante 10% em 2011). O entusiasmo, no entanto, pode ser mau conselheiro, e os analistas e representantes do setor falam em cautela para evitar endividamentos em longo prazo. De qualquer forma, o mercado estará de olho no Brasil neste segundo semestre, podendo significar investimentos em médio e longo prazos, lembra Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria:
— O aumento da produção pode significar armazéns lotados e problemas de transporte dos grãos. Infraestrutura e logística são os principais gargalos do setor.
A ocupação de uma região que compreende os Estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e oeste da Bahia deve impulsionar a produção, ressalta Mauro de Rezende Lopes, pesquisador no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
— Nossas pesquisas indicam que nesse complexo pode haver mais ou menos 20 milhões de hectares a serem ocupados — afirma.
Lopes acrescenta que, em Mato Grosso, há cerca de 10 milhões de hectares a serem plantados.
— O Brasil segue sua destinação histórica de ser um grande produtor de soja no mundo hoje e no futuro, desde que sejam superadas as barreiras à produção, principalmente de infraestrutura — conclui.
Fonte: Zero Hora