Nos dos Estados Unidos, diferente do que acontece no Brasil, os produtores não são obrigados a manter reserva legal e áreas de preservação permanente. No país, ainda há incentivos do governo àqueles que decidem conservar ou recuperar áreas verdes.
Em um museu de Saint Louis, capítulos históricos da época da expansão no Oeste dos Estados Unidos são mantidos vivos. Lá fora, um grande arco de concreto e aço com a altura de um prédio de 65 andares dá boas vindas a quem visita a cidade. O Gateway Arch, um dos principais símbolos da cidade, representa a porta de entrada para região. Do alto, a bela imagem da área urbana e o retrato da eficiente infraestrutura logística do país, exemplificada pelo escoamento de grãos no Rio Mississipi. Entre o passado e o presente foram séculos de desenvolvimento que transformaram a região em um dos principais celeiros de grãos do mundo.
Durante expedição pelo Meio-Oeste americano, a equipe do Canal Rural visitou cinco Estados que juntos foram responsáveis pela produção de 39 milhões de toneladas de soja na safra passada. Isso representa 46% do que os Estados Unidos colheram naquele ciclo. Entre uma fazenda e outra, viu-se as características e as diferenças da agricultura praticada no país.
Em uma das visitas, uma bandeira verde e amarela do Brasil é destaque. A propriedade pertence ao agricultor Eric Rund, que está acostumado a receber produtores rurais de outros países. Aliás, foi através de um desses intercâmbios que ele se tornou sócio de um grupo com fazendas no Brasil, no Estado do Tocantins. Para Rund, é mais fácil ser produtor no Brasil, mas nos Estados Unidos, porém, a infraestrutura é melhor.
– Em certo ponto é mais fácil no Brasil. Por outro lado, nos Estados Unidos, temos estradas boas, pavimentadas, internet. Temos todos os serviços no campo, o que não acontece no Brasil – diz.
As vantagens dos produtores norte-americanos não ficam restritas à infraestrutura. A política ambiental dos Estados Unidos é bem diferente da brasileira, muito menos exigente.
Uma das características das fazendas norte-americanas que chama atenção é a proximidade entre a plantação e a sede das propriedades. As lavouras são praticamente coladas nas casas. Mas isso não representa nenhum empecilho na hora da aplicação dos defensivos. Em geral, a maior preocupação dos agricultores é apenas com a direção dos ventos, para evitar que os produtos possam avançar sobre as residências.
O agricultor pode ver o desempenho da lavoura da janela de casa. Cena bem diferente da realidade brasileira, onde são exigidas certas distâncias entre a plantação e as sedes das fazendas e também entre a área de plantio e os centros urbanos. Eric Rund lembra que o uso de defensivos nos Estados Unidos é bem menor do que no Brasil por conta, principalmente, do rigoroso inverno, que minimiza o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas. O produtor explica ainda que as pulverizações geralmente são feitas por cooperativas, que são responsabilizadas em caso de acidentes e contaminações.
– Temos lei sim, mas temos mais regras para as pessoas que executam este trabalho (cooperativas, por exemplo) para que apliquem bem. Não podem ser qualquer pessoa. Tem que passar por treinamento a cada 2, 3 anos, renovar licença, e isso nos ajuda a poder manter um pouco de independência contra as regras fortes. Os produtores aplicam com cuidado e com responsabilidade. Podemos manter menos regras.
Para os produtores brasileiros, este menor rigor ambiental pode ser visto como uma vantagem competitiva.
– Sem dúvida, aqui eles não têm esta questão de margens de rios, a distância de casas, esta questão ambiental – acredita Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
Segundo Glauber Silveira, um produtor norte-americano lhe contou que a questão de sustentabilidade está na moda. Mas o que é isso? O que o produtor diz que a sociedade, de certa forma, está muito mais interessada em saber se o alimento é saudável ou não. Nos EUA, não há muita pressão como há no Brasil, principalmente em relação à Floresta Amazônica. Há produtores nos EUA que estão produzindo no Brasil também. Adquiriram áreas principalmente na Bahia, Tocantins, Maranhão e falam que é muito mais complicado produzir no Brasil do que nos EUA em virtude de toda esta legislação.
O maior benefício dos norte-americanos diz respeito à política de conservação. Nos Estados Unidos os produtores não são obrigados a manter reserva legal ou áreas de preservação permanente. O governo identifica os locais mais sensíveis, como margens de rios, áreas alagadas ou com risco de erosão. Mas cabe aos donos destas terras a decisão de explorar ou não o local. Se o proprietário optar pela preservação, vai receber do governo pela área. Os valores são baseados no preço do arrendamento na região e o agricultor ainda recebe ajuda em até 50% dos custos para proteção da área com cercas e plantio de árvores ou forrageiras.
Para o diretor-executivo da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa, diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos não existe dicotomia entre a linha de política ambiental e agrícola.
– O que chama muito a atenção da gente aqui nos EUA é que não existe uma dicotomia entre a linha de política ambiental e agrícola. A gente percebe que elas caminham juntas no país. Desde 1985 o governo norte-americano tem programa em que paga para que produtor preserve áreas em sua propriedade. Pode chegar a até US$ 700 por hectare. Fazendo as cotas, dá pra concluir que nos últimos 10 anos o governo norte-americano já pagou mais de US$ 25 bilhões para que estes produtores mantenham áreas preservadas. No Brasil, é o contrário, o governo entrega o ônus todo para o produtor – diz.
Além de pagar pela conservação ambiental, o governo norte-americano limita a preservação a apenas 25% da área agricultável de cada município. No Brasil, o produtor é obrigado a preservar entre 20% e 80% da propriedade, de acordo com a região. Convivendo com estas duas realidades distintas, Eric Rund tenta encontrar explicações para tanta diferença.
– É diferente principalmente porque aqui não há bosques, nem cerrado, quase nada de árvores. Mas nos rios, ao lado deles, o governo paga uma renda por hectare para que produtores mantenham um “pasto”, não deixem entrar fertilizantes e herbicidas em excesso na água. Este programa é muito bom porque não é uma lei que obriga e sim um incentivo tão bom que os produtores normalmente o fazem. O governo também está ajudando. Pelo que entendo, no Brasil, o governo não ajuda, manda! – completa Rund.
Fonte: Canal Rural