Brasil terá de importar todo o cereal disponível na Argentina para satisfazer demanda interna, e ainda há chances de desabastecimento.
Depois de confirmar elevação de 8% nos preços para que os leilões de estoques públicos de trigo do Rio Grande do Sul não prejudicassem a venda da produção privada ao mercado doméstico – e acabassem estimulando as exportações –, o governo federal resolveu cancelar de vez a venda de 51,7 mil toneladas do cereal, que ocorreria ontem. Os três leilões previstos para o dia foram simplesmente suspensos, atendendo à reivindicação dos triticultores, que tentam sustentar preços remuneradores, em um momento de oferta escassa.
A questão é importante porque os preços do trigo no meio rural já estão 10% mais caros em relação ao mês passado e 30% acima das cotações de setembro de 2011, segundo o banco de dados da secretaria de estadual de Agricultura e do Abastecimento (Seab). Nos supermercados, o trigo especial teve alta de R$ 1,74 para R$ 1,85 no período de janeiro a setembro deste ano, conforme pesquisa também da secretaria. Os reajustes, no entanto, chegam a 20%, dependendo da região do país, também devido à alta do dólar, que se mantém exatamente 20% acima da cotação de 28 de fevereiro, a mais baixa do ano.
Para a indústria, “os preços subiram 12% só neste mês”, diz o presidente do Sindicato da Industria da Panificação e Confeitaria do Paraná, Vilson Felipe Borgmann. Segundo ele, o repasse aos produtos finais é parcial.
Volume
O volume ofertado pelo governo era pequeno, suficiente para dois dias de consumo no país, mas suficiente para colocar a indústria em compasso de espera e travar os preços, gerando reclamação generalizada no meio rural. O cancelamento dos leilões promete restabelecer as negociações regionais, avalia Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), que pedia a suspensão desde a semana passada. O governo mostrou “sensibilidade” e, a partir de agora, o interesse pelas exportações tende a diminuir, prevê o analista.
A expectativa dos produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul é que nenhum novo leilão de estoques públicos seja lançado até o fim da colheita, que vai até novembro. Mesmo assim, o cereal continuará escasso, conforme o governo. O país espera produzir 5,2 milhões de toneladas, metade do que consome. Terá de importar 6 milhões de toneladas, principalmente da Argentina.
O problema é que o país vizinho terá apenas 5 milhões de toneladas para exportar, conforme relatório emitido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). No ano passado, esse volume chegava a 12 milhões.
Mesmo com a queda de 2% registrada ontem, relacionada ao desinteresse dos moinhos, o preço pago ao produtor no Paraná continua acima dos custos, em R$ 33,4 por saca de 60 quilos. Falta colher metade da safra paranaense e toda a gaúcha.
Há risco de o Brasil também enfrentar quebra. As lavouras em frutificação e maturação estão perdendo qualidade ora pela falta de chuva, que castigou os Campos Gerais do Paraná por dois meses, ora pelo frio, que atingiu ontem todo o Sul.
Fonte: Gazeta do Povo