Muito tem se falado em bem - estar animal nos últimos anos. A Instrução Normativa nº 51, publicada pelo Ministério de Agricultura, pecuária e Abastecimento (MAPA) em novembro de 2008, vem completar um compromisso firmado desde o decreto 4.645, da década de 30.
Ambos os documentos orientaram acerca da conduta a ser tomada em relação aos tratos com animais. Somam-se a isso outras normativas e legislação estaduais comprometidas com o bem estar dos mesmos, sobre tudo os de produção, que por sua finalidade, acabam sendo tratados mecanicamente como objetivos, e não como os seres vivos que são.
E por que não investir na sanidade e no conforto de nossos rebanhos? Hoje sabemos que simples medidas, como um manejo mais racional, por exemplo, influenciam diretamente na sanidade e na produção, e, portanto, na lucratividade da propriedade rural, sendo, sobretudo o correto a se fazer, e muito apreciado por um mercado consumidor cada vez mais exigência.
Além disso, há uma crescente cobrança do mercado externo por produtos de granjas que tenham essas responsabilidades com o bem estar animal. Cedo ou tarde seremos solicitados a atender essas exigências, da mesma forma que está ocorrendo com a qualidade do leite. É por isso que precisamos nos adequar. Precisamos estar preparados desde já.
Proporcionar bem estar a um rebanho leiteiro pode ser mais simples do que parece. Como já se havia falado, um passo simples e importante são os cuidados com o manejo dos animais. Os bovinos são inteligentes, e aprendem facilmente a rotina da granja. Portando, devemos evitar gritos e agressões, e adotar uma conduta mais dócil. Dessa forma evitamos um estresse que é desnecessário, e que na maioria das vezes acaba afetando a imunidade e a ingestão de alimentos pelo animal. Isso pode causar prejuízos decorrentes de doenças e também uma produção que não explora o potencial máximo de algumas vacas.
Dois pontos críticos da ambiência bovina são a temperatura e a insolação. Como grande parte do rebanho leiteiro é de raças de origem europeia, há um desconforto muito grande por parte dos animais nos meses mais quentes. Esse estresse térmico está diretamente relacionado com a produção e reprodução dos bovinos. Quanto mais calor, menor o desempenho.
Comumente percebemos vacas abrigando-se do sol debaixo de sobras, deixando de se alimentar por causa do estresse térmico. Em propriedades mais estruturadas há salas de alimentação cobertas para abrigar os animais nas horas mais quentes. No entanto, sabemos que a maior parte das propriedades ainda não conta com esse espaço, ficando o gado em áreas de pasto e grama durante todo o dia.
ARVORES NOS PIQUETES
Uma forma de promover conforto térmico nas áreas de pastagem é o sistema agrosilvopastoril, que consiste em arborizar os piquetes. Esse sistema pode ser usado de diversas formas, mas a mais comum é a arborização em linha (sentido norte-sul). Essa técnica permite que haja sombra sobre os animais durante todo o dia, promovendo mais tempo de pastejo, e também uma área de descanso mais ampla e fresca.
Nas estruturas cobertas podem ser usados ventiladores aspersores de agua para dissipar o calor, e ainda sombrites nas laterais, de forma a bloquear o sol, mas permitir que o vento passe. Ainda assim é preciso de espaço. Percebemos nas granjas animais muitos próximos uns dos outros. Como as vacas estão produzindo cada vez mais, seu metabolismo também está acelerado, criando calor endógeno, que bem do próprio animal. Se as vacas ficam muito próximas, o calor aumenta.
Os sombrites podem ser uma importante ferramenta devido ao seu baixo custo e praticidade. Se instalando sobre cochos, ou áreas de descanso, geram resultados expressivos na propriedade.
Por fim, talvez a causa de maior estresse nos bovinos é a falta de alimento e agua, ou a competição pelos mesmos. Para que uma granja leiteira obtenha sucesso é fundamental que a alimentação nunca falte, que seja balanceada e de ótima qualidade. Isso é determinante na produção de leite. Por isso deve-se ficar atento quanto ao acesso dos animais aos alimentos e a agua. É importante investir em formação, adubação e irrigação de pastagens, em silagem, em relação, e também em produtos técnicos que potencializem a digestão e produção. Afinal de contas, sem investimento não há produção.
(Ronaldo Cesar da Rosa, M. Veterinário)