As cotações da soja em Chicago viveram, nesta virada de mês, um legítimo sistema de gangorra. Após dispararem entre os dias 27/04 e 30/04, quando o bushel rompeu a resistência de US$ 15,00, depois de longos meses sem alcançar tal marca, as mesmas recuaram, voltando ao patamar de US$ 14,68/bushel no fechamento desta quinta-feira (03/05), sem antes atingir a US$ 14,80 na véspera.
O mercado começa a se antecipar ao que poderá vir no relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para essa segunda semana de maio. O mesmo deverá trazer a primeira projeção de safra nos EUA para o ano 2012/13, havendo expectativa de que a área semeada com a soja venha a ser maior do que a intenção de plantio, de março, demonstrou.
A elevação do final de abril foi motivada igualmente pela revisão para baixo das safras da Argentina e do Brasil, confirmando a tendência por nós avançada há semanas. Assim, segundo a Bolsa de Buenos Aires, a produção do vizinho país ficaria em 43 milhões de toneladas, embora já haja análises indicando uma safra abaixo disso, enquanto a Conab revisou para 65,9 milhões de toneladas a safra brasileira que está em final de colheita. Vale registrar que o Conselho Internacional de Grãos reduziu a safra sul-americana para apenas 115,9 milhões de toneladas, sendo 15% abaixo do volume da safra anterior. Para a Argentina, a estimativa reduziu a safra para 42,9 milhões de toneladas (12% a menos sobre o ano anterior) e para o Brasil o volume foi reduzido para 65,6 milhões de toneladas ou 13% a menos daquele registrado na safra anterior.
Somou-se a isso a confirmação de que a China importou 4,83 milhões de toneladas de soja em março, volume 37% superior ao mesmo mês do ano anterior. Nos três primeiros meses do ano o volume importado pelos chineses ficou em 13,31 milhões de toneladas, ou seja, 21% acima do registrado no primeiro trimestre de 2011. Isso significa dizer que o freio na economia do país oriental não está se refletindo na demanda de soja, pelo menos não por enquanto.
Já nos EUA, as importações líquidas de soja, referentes ao ano comercial 2011/12, iniciado em setembro, ficaram em 926.000 toneladas na semana encerrada em 19/04, sendo a China, com 603.800 toneladas o principal comprador. Para o novo ano comercial 2012/13 o volume ficou em 483.000 toneladas, contra 845.000 na semana anterior. Por sua vez, os embarques semanais dos EUA, na semana encerrada em 26/04, somaram 420.500 toneladas, acumulando desde setembro/11 (início do ano comercial 2011/12) um total de 29,64 milhões de toneladas, contra 36,98 milhões um ano antes.
Paralelamente, o plantio da nova safra de soja nos EUA chegou a 12% da área esperada em 29/04, contra 5% na média histórica para esta época do ano. Para o milho, o mesmo alcançava 53%, contra 27% na média, e para o trigo de primavera 74%, contra 32% na média. Ou seja, o plantio em geral está muito avançado nos EUA.
O recuo das cotações em Chicago no início de maio, além da aceleração no plantio estadunidense e do clima normal, também foi influenciado pela alta do dólar perante as outras moedas mundiais, fato que trouxe o Real para níveis de R$ 1,93 durante o dia 03/05, e pela redução conseqüente nos preços das commodities em geral, incluindo o petróleo. Também pudera: as altas nos preços da soja durante abril foram muito fortes e um ajuste, mesmo que técnico, se fazia necessário em não havendo importantes notícias altistas no mercado. Para se ter uma ideia da evolução do bushel no mês passado, ele passou de US$ 14,16 no dia 1º/04 para US$ 15,03 no dia 30/04, com a média do mês ficando em US$ 14,40.
Enquanto isso, na Argentina, a comercialização da atual safra atingiu a 45% do total, contra 40% em igual período do ano anterior. Enquanto isso, a colheita da mesma chegava a 57% da área no dia 26/04, contra 67% um ano antes.
Enfim, os prêmios nos diferentes portos brasileiros se mantiveram firmes, variando entre 68 centavos e US$ 1,10/bushel na virada do mês. Já no Golfo do México (EUA) os mesmos ficaram entre 65 e 66 centavos/bushel, enquanto em Rosário (Argentina) tivemos valores entre 54 e 60 centavos.
No mercado brasileiro, a soja subiu fortemente na primeira parte da semana, puxada por Chicago, pelo câmbio e pela nova revisão para baixo na safra nacional. A média gaúcha bateu em R$ 54,87/saco, enquanto os lotes chegaram a valores entre R$ 62,00 e R$ 62,50/saco, um novo recorde nominal na história do Real. Nas demais praças, os lotes oscilaram entre R$ 54,75/saco em Sapezal e Diamantino (MT) e R$ 61,50/saco nas regiões paranaenses de Londrina, Maringá e Pato Branco.
Em termos de preços futuros, a BM&F/Bovespa registrou, para maio/13, o valor de US$ 28,70/saco, enquanto no mercado gaúcho o interior praticou valores de R$ 54,50/saco para maio/13. Em Goiás, o disponível registrou R$ 51,00/saco para março/13 na região de Rio Verde. Já na Bahia a soja esteve a R$ 49,00/saco para maio/13, porém, com poucos negócios. Em Tocantins, para abril/13, o valor do saco ficou em R$ 47,50.
Salvo uma frustração de safra nos EUA neste ano, tais preços futuros são excelentes, pois difíceis de serem mantidos, para a realização de média na comercialização da nova safra 2012/13.
Enfim, a colheita no Brasil, até o dia 27/04, chegava a 95% da área total, sendo 90% no Rio Grande do Sul e 99% no Paraná. Quanto à comercialização desta safra, até a mesma data, o volume alcançava 75% do total, sendo 56% no Rio Grande do Sul, 69% no Paraná, 84% no Mato Grosso, 68% no Mato Grosso do Sul e 78% em Goiás.
Acima o gráfico da variação de preços da soja no período de 30/03 a 26/04/2012.
Fonte: CEEMA – Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário.