A semana registrou mais um forte avanço nas cotações da soja em Chicago, após os recuos da semana anterior. Com isso, o fechamento desta quinta-feira (26) ficou em US$ 14,81/bushel, após US$ 14,73 na véspera e US$ 14,15/bushel uma semana antes.
Estas altas, agora, estão muito mais ligadas ao componente especulativo exercido pelo capital financeiro, através de Fundos, que continua atuando forte na ponta compradora. Isso porque a quebra na América do Sul e a possível redução de área nos EUA já estão precificados. Tanto é verdade que o anúncio de recessão econômica na Grã-Bretanha e na Espanha nesse primeiro trimestre do ano, aprofundando a crise mundial e europeia, levam o capital especulativo a outras alternativas, tipo as commodities. Por outro lado, em termos fundamentalistas as notícias, por enquanto, estão mais para o lado baixista. O clima continua bom nas regiões produtoras dos EUA e, particularmente, chama a atenção o fato de que o fechamento de Chicago, para novembro próximo (momento da consolidação da colheita de soja nos EUA), ficou mais de um dólar por bushel abaixo dos atuais valores, ou seja, em US$ 13,58 neste 26/04. Por enquanto, tal realidade é um indicativo de recuo nas cotações internacionais nos meses futuros. Obviamente, isso somente se confirmará se a safra dos EUA for normal. Caso contrário, novas altas poderão ocorrer, com o bushel podendo se aproximar de seu recorde histórico, alcançado no início de 2008, quando chegou acima de US$ 16,50.
Outro aspecto que retornou ao mercado é a pressão dos operadores sobre os preços futuros da oleaginosa, esperando ainda motivar os produtores estadunidenses a aumentarem a área semeada já que a intenção de plantio indicada em março apontou redução de 1% na mesma. Assim, o mercado espera que o relatório definitivo sobre a real área plantada, previsto para o dia 30 de junho, venha confirmar essa mudança de rumo. Caso isso venha a ocorrer é possível esperar um recuo nas cotações em Chicago já em julho, se o clima estiver normal sobre as lavouras dos EUA.
O quadro é tão especulativo que circularam rumores, não confirmados, de que o Brasil poderia bloquear as exportações de soja visando garantir o abastecimento interno devido as perdas com a seca. Obviamente, rumores sem fundamento se olharmos o conjunto da produção nacional.
Vale destacar ainda que o farelo tem subido muito de preço, enquanto o óleo de soja, em Chicago, não acompanha o ritmo. Para se ter uma ideia do quadro, a tonelada curta de farelo, nesta semana, ultrapassou a US$ 413,00, fato que não ocorria desde o início de julho de 2009.
Dito isso, as exportações líquidas dos EUA, na semana encerrada em 16/04, somaram 374.300 toneladas no atual ano comercial 2011/12, iniciado em setembro/11. A China foi o maior comprador com 127.200 toneladas. Já para o ano comercial 2012/13, o volume vendido atingiu a 845.000 toneladas, igualmente com a China sendo o principal comprador ao adquirir 615.000 toneladas daquele total.
Nesse sentido, o mercado está considerando que os chineses estariam se deslocando a América do Sul para a soja dos EUA em função da forte quebra existente no subcontinente sul-americano, fato que encarece os preços locais. Isso igualmente conforta as altas atuais de Chicago.
Por sua vez, os registros de exportação dos EUA, na semana encerrada em 12/04, fecharam a mesma em 1,22 milhão de toneladas. Já os embarques na semana encerrada em 19/04 ficaram em 326.700 toneladas, acumulando desde setembro/11 o total de 29,2 milhões de toneladas, representando 20,6% abaixo do volume registrado no mesmo período do ano anterior. (cf. Safras & Mercado)
Paralelamente, a China teria comprado 4,34 milhões de toneladas de soja do Brasil no primeiro trimestre do ano. No mesmo período do ano anterior os chineses haviam adquirido apenas 1,82 milhão de toneladas. No mês de março passado, a China importou um total de 4,83 milhões de toneladas de todas as origens, representando um aumento de 37% sobre o total comprado no mesmo mês do ano anterior. No primeiro trimestre de 2012 o total adquirido pela China chegou a 13,31 milhões de toneladas, com alta de 21% sobre o mesmo período do ano passado. Com isso, a participação brasileira nas compras de soja pela China ficou em 32,6% no período. Dito de outra maneira, um terço das importações chinesas de soja é do Brasil neste momento.
Pelo lado da Argentina, nova revisão de safra indica que o volume final ficará ainda mais baixo. Segundo o Ministério da Agricultura local o vizinho país deverá colher apenas 42,9 milhões de toneladas. Em março a estimativa era de 44 milhões de toneladas, enquanto no início do plantio se espera algo em torno de 54 milhões de toneladas. No ano passado a colheita já havia ficado aquém do esperado, com um volume de 48,9 milhões de toneladas. Vale destacar que as recentes geadas nas regiões produtoras da Argentina podem ter causado mais prejuízos, pois o excesso de frio tende a provocar a abertura das vagens e a queda dos grãos.
Enquanto isso, a comercialização da safra 2011/12 na Argentina alcançou a 43% em meados de abril, contra 38% em igual momento do ano anterior.
Enfim, ainda em termos mundiais, as exportações de óleo de soja por parte do conjunto formado pelo Brasil, Argentina e EUA teriam recuado 400.000 toneladas entre janeiro e março deste ano.
Ao mesmo tempo, Oil World revisou sua estimativa de exportações mundiais de óleo de girassol, com o volume chegando agora a 6,41 milhões de toneladas no atual ano comercial outubro/11 a setembro/12. Isso representa um aumento de 1,55 milhão de toneladas sobre o obtido no ano anterior.
Já no Canadá, estimulados pelos excelentes preços mundiais, os produtores locais deverão aumentar em 12,5% a área semeada com oleaginosas. Isso representa mais 2,9 milhões de hectares, perfazendo um total de 26,1 milhões de hectares neste ano. A canola será o principal produto semeado.
Oil World igualmente revisou para baixo a sua estimativa de produção mundial de soja, com o volume final ficando agora em 238,1 milhões de toneladas neste ano 2011/12. Isso representa um recuo de 27,7 milhões de toneladas em relação ao ano anterior.
Nesse sentido, Safras & Mercado informou que a safra da América do Sul ficará em apenas 118,64 milhões de toneladas nesse ano, recuando 12% sobre as 134,6 milhões de toneladas do ano anterior. O Brasil teria perdido 10% de sua produção, especialmente no Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina e Paraná, ficando a mesma em 66,8 milhões de toneladas, a Argentina perde 12% da produção, com 43,5 milhões de toneladas (um número ainda otimista em relação aos números do governo argentino), o Paraguai perdeu 38%, com uma colheita de 4,4 milhões de toneladas, enquanto a Bolívia e o Uruguai registraram pequenas altas, de 2% e 1%, com os volumes se estabelecendo em 2,4 milhões e 1,55 milhão de toneladas respectivamente.
A semana terminou com os prêmios valendo entre 65 centavos e US$ 1,10/bushel nos diferentes portos brasileiros, para maio, enquanto no Golfo do México (EUA) os mesmos registraram valores entre 63 e 64 centavos e em Rosário (Argentina) o prêmio ficou entre 46 e 60 centavos de dólar por bushel.
No Brasil, diante das novas altas em Chicago e de um câmbio permanecendo ao redor de R$ 1,88 por dólar, os preços locais voltaram a subir. Nos lotes, todas as praças nacionais, pela primeira vez na história do Real, ficaram acima de R$ 50,00/saco em termos nominais. A variação destes preços ficou entre R$ 51,75/saco em Sapezal (MT) e R$ 59,50/saco no norte do Paraná. Em algumas localidades do sul do Brasil, encontrou-se picos a R$ 60,00/saco. Por sua vez, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 53,96/saco. Já na BM&F/Bovespa o contrato maio/12 ficou em US$ 33,05/saco, enquanto o maio/13 se estabeleceu em US$ 29,00/saco.
Em termos de preços futuros, no interior gaúcho houve preços a R$ 54,00/saco para maio/13. Em Goiás, para março/13, o valor atingiu a R$ 51,00/saco, enquanto na região de Brasília o saco, para o mesmo mês futuro, ficou em R$ 51,50. Já na Bahia, o preço futuro se estabeleceu a R$ 49,00/saco para maio/13 e em Tocantins, para abril/13, o valor ficou em R$ 47,50/saco. Todos excelentes preços e que não devem ser deixados de lado pelos produtores, considerando a estratégia de se realizar uma média de comercialização.
Para se ter uma ideia da importância disso, a cotação atual para novembro/12 em Chicago, mantidas as demais variáveis idênticas, colocaria o preço de balcão, no Rio Grande do Sul, hoje, em torno de R$ 50,50/saco, contra os atuais R$ 54,00.
Enfim, a colheita da safra brasileira, até o dia 20/04, chegava a 91% da área, contra 85% na média histórica, sendo 79% no Rio Grande do Sul, 99% em Goiás, 85% em Minas Gerais, 60% na Bahia e 84% em Santa Catarina. Nos demais estados a mesma está concluída.
Reprodução
Acima o gráfico da variação de preços da soja no período de 30/03 a 26/04/2012.
Fonte: CEEMA – Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário.