(Por Kátia Abreu*) - Os inúmeros esforços brasileiros nos últimos anos em favor de uma produção sustentável de alimentos precisam ser compensados, em especial pelos países que não têm como recuperar as suas florestas e pelas empresas que, em suas atividades, são emissoras de gases de efeito estufa.
Importante produtor e exportador mundial de açúcar, café, suco de laranja, álcool, soja em grão, farelo e óleo de soja, milho, além de carnes bovina, suína e de frango, o Brasil tem uma das maiores e mais sustentáveis agriculturas do planeta.
Esse diferencial é o resultado da adoção de práticas agrícolas corretas pelos produtores brasileiros, que asseguram a preservação de 61% do território nacional coberto com vegetação nativa, nos seis biomas, incluindo a Amazônia.
Entre as técnicas sustentáveis implantadas no país estão algumas exclusivamente brasileiras, como a integração lavoura-pecuária-floresta, além do trabalho de recuperação de pastagens degradadas e a fixação biológica do nitrogênio no solo, técnica que reduz ou, em alguns casos, elimina a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados. Outra prática sustentável é o plantio direto, que substitui o uso do arado na terra, cuja utilização aumenta a emissão de gases.
Aliada a essas técnicas, a adoção de outras tecnologias poderá contribuir para a redução das emissões de gás carbônico. Estima-se que essas práticas possibilitarão ao setor agropecuário incorporar até 70 milhões de hectares de terras ao processo produtivo, áreas que atualmente se encontram degradadas e, por esse motivo, consideradas improdutivas.
Essas iniciativas permitirão ao Brasil produzir, de maneira sustentável e sem a necessidade de derrubar uma só árvore, 400 milhões de toneladas de alimentos até 2050. Com a produção dessa quantidade de comida, vamos contribuir com a meta da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) de produção de 2,8 milhões de toneladas de grãos e carnes, em 38 anos. Essa é a quantidade que precisa ser produzida pelos países produtores para alimentar uma população mundial de 9,3 bilhões de pessoas em 2050.
Os inúmeros esforços brasileiros nos últimos anos em favor de uma produção sustentável de alimentos precisam ser compensados, em especial pelos países que não têm como recuperar as suas florestas e pelas empresas que, em suas atividades, são emissoras de gases de efeito estufa (GEEs).
Para que as nossas iniciativas sejam reconhecidas, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tem levado aos fóruns internacionais, aos meios acadêmicos e à mídia europeia e norte-americana informações e dados atuais sobre a agropecuária brasileira.
Adotamos uma política de inserção no cenário internacional para mostrar ao público externo que somos capazes de ganhar produtividade e abastecer os mercados interno e externo ocupando apenas 27,7% do nosso território, de 851 milhões de hectares, com lavouras de grãos, pecuária, produção de biocombustíveis e silvicultura.
Outro aspecto nos diferencia dos demais países. O Brasil tem mais de 500 milhões de hectares de terra preservados, sendo o único país que abriu mão de terras férteis, que poderiam ser ocupadas com atividades agropecuárias, com o objetivo de preservar a biodiversidade. Essa condição não se vê em nenhum outro lugar.
Mesmo com essas condições diferenciadas, o Brasil aceitou, de forma voluntária, reduzir entre 36% e 38% as emissões de gases até 2020, compromisso assumido pelo governo federal em 2009, durante a Cúpula da Organização das Nações Unidas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca.
A meta de redução vale para vários setores. A agropecuária brasileira tem feito a sua parte. O desmatamento no país, por exemplo, vem diminuindo nos últimos anos, atingindo a menor taxa anual em 23 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A queda do desmatamento é resultado de vários fatores, entre eles a melhora na fiscalização por parte das agências ambientais e os esforços do setor agropecuário no sentido de aumentar sua produtividade sem destruir a vegetação nativa.
Nos últimos anos, a produção agrícola cresceu 247,13%, enquanto a área plantada aumentou apenas 31% e a produtividade média das lavouras subiu 151%, crescimento que permitiu ao Brasil passar da condição de importador de alimentos para uma posição de destaque no mercado mundial.
Os expressivos resultados foram conseguidos graças ao esforço modernizador do setor agropecuário, o que garantiu a formação de uma "poupança ambiental" de 73,7 milhões de hectares, formada por áreas que, em função do investimento em tecnologia, não foram utilizadas e permaneceram com cobertura vegetal original.
O mundo precisa conhecer essa realidade e saber que o produtor rural brasileiro não tem interesse em desmatar. Os 5,175 milhões de agricultores do país querem apenas continuar semeando lavouras e criando animais no mesmo espaço de chão, preservando os recursos hídricos. Somente este ano, a CNA apresentou esses dados e avaliações em palestras na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, na London School of Economics (LSE), em Londres, em conferência internacional organizada pela Fundação Friedrich Naumann para a Liberdade, em Berlim, e no 6º Fórum Mundial das Águas, na França.
Ao protagonizar essas discussões, a CNA pretende mostrar ao mundo que o Brasil é um caso de sucesso na conservação ambiental. O país tem uma lei rigorosa e minuciosa de preservação da vegetação nativa nas margens, encostas e nascentes, com foco na conservação dos recursos hídricos.
Vamos levar esse novo conceito, que é válido para os cinco continentes, à Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), em junho, no Rio de Janeiro. A maior agricultura tropical do planeta não pode ficar de fora deste importante e estratégico debate.
* Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).