A Diretoria da COTRIJUI participou ativamente na 23ª edição do Fórum Nacional da Soja, realizado nesta terça-feira (06/03), no Auditório Central do Parque de Exposições da Expodireto 2012, em Não Me Toque/RS.
Na pauta da 23ª edição do Fórum, importantes temas foram debatidos e apresentados aos participantes do evento, por pesquisadores, consultores e analistas de mercado.
O primeiro tema foi abordado pelo pesquisador da CCGL/TEC, Sr. Mario Antonio Bianchi, abordando o Presente e futuro do controle de plantas daninhas resistentes a herbicidas, e teve como moderador o Sr. Mário Jung, Gerente Agrotécnico da COTRIJUI.
Na sequência, o Diretor Executivo da AGROCONSULT e idealizador do Rally da Safra/SP apresentou as tendências do mercado da soja e a importância das cadeias produtivas com o tema: Do Agro para o Negócio. O Presidente da COTRIJUI, Sr. Carlos Poletto, atuou como moderador neste bloco que por sua natureza, desperta o interesse de todos os produtores e autoridades ligadas ao agronegócio.
O terceiro e último tema abordou as Perspectivas da Macroeconomia Internacional e seus efeitos sobre os Mercados Agrícolas, ministrado pelo Sr. Alexandre Mendonça de Barros - Analista da MB Agro/SP, que teve como moderador o Presidente da COOPATRIGO de São Luiz Gonzaga/RS, Sr. Paulo Cezar Vieira Pires.
A seguir síntese do documento elaborado pelo analista de mercado, Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, consultor junto ao Fórum:
O Fórum Nacional da Soja deste ano de 2012 privilegiou três momentos distintos.
Em primeiro lugar, destacou o presente e o futuro do controle de plantas daninhas resistentes a herbicidas, através da palestra do Sr. Mário Antonio Bianchi (pesquisador da CCGL/TEC). Em segundo lugar, trouxe à tona o tema do mercado da soja e a importância das cadeias produtivas, pela palestra do Sr. André Pessoa (diretor executivo da Agroconsult e idealizador do Rally da Safra). Por fim, o destaque foi a palestra sobre as perspectivas da macroeconomia internacional e seus efeitos sobre os mercados agrícolas, ministrada pelo Sr. Alexandre Mendonça de Barros (analista da MB Agro de São Paulo).
Quanto ao primeiro assunto, destacou-se que o uso continuado do mesmo herbicida acaba gerando um problema de resistência das ervas daninhas que atingem as lavouras. Isso, inclusive, pode por em xeque o próprio uso das sementes geneticamente modificadas. Assim, busca-se gerar herbicidas que resolvam estas resistências de forma constante. Todavia, o problema futuro, e que gera dúvidas quanto a real solução do mesmo, é se tal sistema de controle poderá ter continuidade "ad infinitum". Na prática, é difícil de se chegar a herbicidas novos na velocidade com que as ervas daninhas têm se adaptado. Um exemplo destacado neste sentido é que neste ano de 2012, em função da seca no sul do Brasil, os produtores terão que redobrar os cuidados, pois a tendência imediata é de encontrarmos buva resistente aos herbicidas existentes, o que vem sendo considerado como uma "bomba-relógio" para a agricultura local.
Por sua vez, a soja transgênica, apesar de ser um avanço nesse sentido, ainda não é suficiente para tudo o que hoje se precisa nesse contexto do combate às ervas daninhas. Existem novas sementes em estudo, porém, as mesmas, considerando o tempo de sua aprovação no Brasil, ainda levarão entre oito a 10 anos para chegarem até os produtores rurais brasileiros. Em síntese, não há mágica no processo e os produtores precisam, antes de tudo, aperfeiçoarem o manejo da propriedade e não só de uma ou outra cultura específica.
O segundo assunto trouxe como destaque que os preços internacionais da soja deverão se manter aquecidos. Os fundamentos do mercado, a partir da quebra na safra sul-americana, são positivos. Além disso, a demanda mundial, mesmo com a atual crise econômica, deverá permanecer firme, fato que permite esperar preços elevados para a soja pelos próximos anos.
Assim, o bushel de soja poderá permanecer, pelo menos até meados de 2013, entre US$ 12,00 e US$ 13,00, com preços em reais ficando entre R$ 40,00 e R$ 50,00 por saco ao produtor brasileiro, caso o câmbio se mantenha nos atuais níveis. Todavia, no curto prazo, e particularmente em parte do sul brasileiro, a rentabilidade neste ano é muito baixa e mesmo negativa, pois a quebra de safra é importante. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Rally da Safra espera uma produtividade média de apenas 27 sacos por hectare, havendo muitas regiões com colheita abaixo de 10 sacos por hectare. Desta forma, a produção gaúcha deverá recuar em quase 50%, ficando ao redor de 6,7 milhões de toneladas neste ano.
Entretanto, para o próximo ano, em havendo safra normal, a rentabilidade deverá voltar a ser positiva já que não se vislumbra quedas significativas de preço, a começar por Chicago.
Outro ponto importante está no fato de que em regiões como o Centro-Oeste brasileiro o crédito próprio, que em 2007/08 financiava apenas 5% das lavouras, chega hoje a 25%. Isso porque o sistema produtivo nessa região do Brasil chega na fase dos mega-produtores.
Outro ponto destacado foi o fato de que as empresas da cadeia da soja procuram estar presente em todos os elos da cadeia produtiva. Assim, em poucos anos o Brasil talvez venha a ser o único país onde haverá um grande número de empresas do agronegócio com ações em bolsa de valores. Os mega-grupos, nesse contexto, deverão dominar 40% do processo produtivo e dos negócios no setor. E as cooperativas, como ficam nesse quadro? A sugestão indicada foi de que as mesmas precisam formatar sua estrutura de ação via "empresas espelho" que tenham a possibilidade de receber investimentos, inclusive estrangeiros. Dito de outra forma, a Região Sul do Brasil, onde predominam as cooperativas de produção, deve se organizar para aproveitar essa evolução do agronegócio nacional, a qual já é uma característica na maioria dos países desenvolvidos.
No que diz respeito às perspectivas da macroeconomia internacional, ficou evidenciado de que a Ásia está se consolidando como a maior região econômica do mundo. Isso porque a região poupa muito, gerando um excedente exportável que se desloca para outras partes do mundo, em especial os EUA e, mais recentemente, os chamados países emergentes como o Brasil. No caso dos EUA, sua sobrevivência econômica se dá ligada ao excedente procedente da Ásia. Assim, o mundo vive com um equilíbrio entre o excedente asiático e o déficit estadunidense.
Com o crescimento da Ásia em geral e particularmente da China, a demanda de alimentos cresceu significativamente no mundo. Paralelamente, os fundos passaram a aplicar muitos recursos nas bolsas de mercadorias. Esse conjunto de fatos elevou os preços das commodities a partir de 2007, com os mesmos superando os preços dos produtos industriais. Isso proporcionou um choque de renda que sustentou o crescimento na América Latina, Oriente Médio e outras regiões do mundo produtoras de commodities. No Brasil, a demanda asiática, associada ao estímulo dado ao consumo interno, nesse período recente de crise, permitiu que o mercado agrícola ficasse aquecido.
O ponto que preocupa é a Europa, onde a zona euro, criada para fortalecer a região perante o avanço das demais regiões do mundo no pós-2ª Guerra Mundial, enfrenta enormes dificuldades. Isso ocorre porque, para funcionar, um bloco econômico com moeda única deve seguir as mesmas regras fiscais. Ora, se um país gasta mais do que os outros, o processo não funciona. Essa situação acaba se cristalizando pelo custo do trabalho entre os diferentes países. Nesse momento, o custo está muito mais baixo na Alemanha do que nos demais países membros do bloco. Com isso, os investimentos industriais se deslocam para a Alemanha, deixando os demais países em dificuldades para se recuperarem da crise.
A partir desta realidade, a pergunta posta é: se a China vai continuar crescendo, quem irá sustentar tal crescimento? Em termos mundiais, diante da crise existente, será difícil encontrar um país ou região capaz desta performance. Nem mesmo os EUA teriam condições de continuar tal processo. Assim, os chineses terão que se voltar ao mercado interno. Algo que não será fácil, pois toda a sua estratégia está voltada para o mercado externo. Mas em um determinado momento tal situação deverá se concretizar, fato que não permitirá que o consumo de alimentos recue no mundo. Aliás, tal quadro já vem ocorrendo desde o início dos anos de 1990. Isso explica porque o saldo comercial agrícola, de países como o Brasil e a Argentina, entre 1990 e 2010, cresceu fortemente. Ou seja, estamos diante do surgimento de uma nova estrutura geopolítica mundial, onde a segurança alimentar passa a ser o ponto crucial. Esta nova estrutura está fazendo com que as Américas se consolidem como grande região exportadora de alimentos, enquanto Ásia e Oriente Médio passam a ser grandes importadores de alimentos. Assim, no longo prazo, a China continuará sendo importante consumidor e importador de soja.
Paralelamente, a população dos EUA passou a poupar mais, permitindo que, já a partir de 2013, a economia deste país se recupere de forma mais sólida. A questão central, nesse quadro, é que tanto Europa como EUA, através de seus bancos centrais, estão injetando muito dinheiro no mercado. Assim, existe muita liquidez no mercado mundial no momento, fato que leva os fundos a retornarem às bolsas de mercadorias, aquecendo as cotações da soja e outros produtos, ao mesmo tempo em que permitem a sobrevalorização de moedas como o Real brasileiro. Mesmo com o Banco Central brasileiro comprando dólares de forma constante (as reservas nacionais deverão rapidamente alcançar o patamar de US$ 400 bilhões), será difícil evitar que a moeda brasileira se mantenha sobrevalorizada.
Enfim, mesmo com o Brasil enfrentando bem a crise econômica e gerando um mercado interno aquecido, o país está acumulando um déficit que preocupa. Trata-se do déficit nas transações correntes, que deverá alcançar US$ 74 bilhões em 2012. Ora, tal déficit, por enquanto, tem encontrado financiadores no exterior, pois há liquidez. Todavia, no momento em que não houver financiador para tal déficit, e as reservas nacionais não derem mais conta do problema, a tendência será o Real se desvalorizar. No entanto, mesmo que isso venha a ocorrer no médio prazo, não se trata de uma forte desvalorização, devendo o câmbio girar entre R$ 1,70 e R$ 1,90 por dólar. Essa situação cambial, infelizmente, não permite que os produtores de soja obtenham um melhor preço em reais pela oleaginosa, perdendo parcialmente as vantagens oferecidas pela alta do bushel em Chicago nestes últimos cinco anos e, talvez, inclusive nos anos futuros.