As cotações da soja voltaram a subir em Chicago, fechando o primeiro dia de março em US$ 13,16/bushel, após média de fevereiro em US$ 12,58/bushel para o primeiro mês cotado. Como se nota, o mercado voltou a romper o teto dos US$ 13,00/bushel, algo que não era alcançado desde o dia 21 de setembro de 2011. Somente em fevereiro, o bushel de soja em Chicago ganhou praticamente um dólar, passando de US$ 12,15 no dia 1º/02 para US$ 13,13 no dia 29/02.
Nesse momento, o retorno da especulação financeira à Bolsa, de forma mais agressiva, associado ao vigor dos preços do óleo, puxados pelo petróleo no mercado internacional, estariam justificando tal comportamento. Soma-se a isso a já esperada quebra na safra sul-americana que, a cada semana, está sendo reavaliada para baixo, embora o retorno significativo das chuvas no sul do Brasil e na Argentina neste final de fevereiro. Mas existe outro importante fator: com a proximidade do novo plantio nos EUA e a tendência dos produtores em conservarem a área, os operadores em Bolsa, pelo lado da soja, tenta puxar artificialmente as cotações para cima visando estimular os produtores locais a deslocarem mais área para a oleaginosa, em detrimento do milho. Essa queda de braço vai, pelo menos, até o dia 30/03, quando sai o relatório de intenção de plantio naquele país.
Por sua vez, o Fórum Anual do USDA informou que a nova área de soja nos EUA deverá ficar igual a do ano anterior, ou seja, ao redor de 30,3 milhões de hectares. Esse número pode não ser suficiente para manter os estoques até agora anunciados, fato que aqueceu o mercado igualmente.
Ao mesmo tempo, as exportações líquidas dos EUA, para o ano 2011/12, iniciado em setembro passado, chegaram a 1,16 milhão de toneladas na semana encerrada em 16/02, sendo a China o principal comprador com 521.000 toneladas. Já as vendas líquidas para o ano 2012/13 somaram 2,87 milhões de toneladas na mesma semana, com a China mantendo-se como principal comprador. O firme retorno da China ao mercado estadunidense favoreceu também à melhoria das cotações em Chicago.
Quanto aos registros de exportação, na mesma semana do 16/02, eles acumulavam 28,4 milhões de toneladas no ano 2011/12, contra 39,2 milhões um ano antes, confirmando volumes menores no atual ano comercial. Na semana do 23/02 os embarques de soja por parte dos EUA alcançaram 1,0 milhão de toneladas, acumulando 23,7 milhões de toneladas no ano comercial, contra 31,4 milhões no ano anterior.
Paralelamente, assim como no Brasil, a safra de soja na Argentina voltou a ser revisada para baixo, ficando agora estimada entre 44 e 46 milhões de toneladas. Cerca de 10 milhões a menos do que o inicialmente projetado.
Nesse contexto, os prêmios fecharam a semana da seguinte forma: no Golfo do México (EUA), o bushel ficou entre 47 e 78 centavos de dólar; em Rosário (Argentina), entre 63 e 69 centavos; e nos diferentes portos brasileiros, entre 68 centavos e US$ 1,13, todos para março.
No Brasil, os preços se mantiveram firmes, apesar de nova valorização do Real que, durante a semana chegou a ser cotado abaixo de R$ 1,70. Assim, o balcão gaúcho fechou a semana em R$ 43,11/saco na média, enquanto os lotes ficaram entre R$ 49,00 e R$ 49,50/saco. No restante do país, os mesmos oscilaram entre R$ 38,75/saco em Sapezal (MT) e R$ 48,40/saco no norte do Paraná. O mercado espera, diante disso, uma retomada das vendas futuras por parte dos produtores, além de uma aceleração das vendas do que já está sendo colhido. Nesse sentido, até o dia 24/02 o Brasil havia colhido 24% de sua área total, contra 16% na média histórica. No Paraná, a colheita atingia a 26%, no Mato Grosso 45%, no Mato Grosso do Sul 29%, em Goiás 31%, em São Paulo 14%, em Minas Gerais 15% e na Bahia 2%.
Quanto à quebra de safra, os números se definem aos poucos e causam surpresas desagradáveis em muitas regiões. No Paraná, por exemplo, a produção total deverá cair em 30% neste ano, ficando em 10,7 milhões de toneladas, com 28% de perda na produtividade média (cf. Deral). No Rio Grande do Sul, as perdas deverão ficar ao redor de 70% na principal região produtora (cf. cooperativas e produtores). Assim, a colheita gaúcha não passaria de 5,5 milhões de toneladas considerando que o clima não tenha atingido muito as chamadas regiões periféricas de produção. As últimas chuvas talvez recuperem algumas lavouras, porém, ainda é cedo para se chegar a uma conclusão a respeito.
Desta maneira, e considerando as perdas do oeste catarinense, a colheita final do Brasil deverá ficar entre 60 e 64 milhões de toneladas, contra quase 75 milhões na safra anterior.
Enfim, na BM&F/Bovespa, a semana terminou com o contrato maio/12 sendo cotado a US$ 29,75/saco, enquanto o maio/13 ficou em US$ 27,70/saco. Os preços futuros ficaram entre R$ 44,00 e R$ 48,50/saco no FOB interior, nos diferentes Estados produtores, tendo o período de abril e maio próximos como referência. Para fevereiro/13, o mercado goiano cotou o saco de soja a R$ 44,50.
Fonte: CEEMA – Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário - Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Emerson Juliano Lucca