O Informativo COTRIJUI deste último domingo (19.02) entrevistou o Prof. Dr. Argemiro Luis Brum, Doutor em economia internacional, Coordenador, Pesquisador e Analista de Mercado da CEEMA – Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário, que falou aos ouvintes sobre as tendências para o agronegócio em 2012. A seguir síntese da entrevista:
COTRIJUI: Professor Argemiro, o Senhor é especializado, se dedica ao agronegócio e tem falado e escrito, através da mídia, sobre as tendências do nosso agronegócio e tudo que envolve a agropecuária dentro e fora da “porteira”. O que se pode esperar para esse ano (2012)?
Dr. Argemiro: Efetivamente, as tendências do agronegócio estão ligadas a situação global da economia. Obviamente, estamos no Brasil tendo uma resposta muito superior àquilo que a própria economia vem tendo, dito de outra maneira, é graças ao agronegócio que a economia andou razoavelmente bem neste último ano. No ano que passou, o crescimento da nossa economia, provavelmente, ficou abaixo de 3% (o número oficial ainda não foi divulgado), e esses 3% deve-se muito ao resultado do agronegócio de 2011, que foi excelente na maioria dos casos. Para 2012 a situação é um pouco mais complicada, pois a economia não deverá reagir muito, a tendência é de ser um pouco superior, talvez 3%, 3,5% no crescimento do PIB e geração de riqueza.
O governo está fazendo força para que o consumo mantenha-se, afim de que esse crescimento não recue demais, por isso vem baixando a taxa de juros. Talvez terminemos o ano com 9,5% da taxa SELIC. A partir de maio o governo vai estar com um grande problema para definir nessa área: a inflação deverá começar a pressionar os índices para cima e o governo, talvez, tenha que controlar um pouco e não consiga reduzir os juros, e se não cuidar, talvez tenha que reverter sua política. Acredito que a inflação, se o governo souber controlar, fica dentro de 4,5% e 6,5% neste ano. Passamos 2011 com 6,6%, que é o teto da meta. É um numero aceitável, mas não é o melhor, que seria 4% a média estabelecida pelo governo. Dito isso, nós poderíamos estar muito melhor no enfrentamento desse contexto maior, pois estamos diante de um quadro de crise internacional que não termina. Começou em 2007 e em 2012 ainda é difícil, principalmente na Europa, que vai viver uma recessão econômica, isto é, um crescimento negativo na sua economia. Os EUA também não conseguem decolar, e as demais economias entram em dificuldades. A China vai reduzir o seu crescimento econômico mais um pouco, e tudo vai ficar mais difícil em termos internacionais, pelo menos no primeiro semestre.
Aqui, temos essa fatalidade do agronegócio sofrer, somado a isso, o problema da seca com as perdas já contabilizadas. O IBGE, por exemplo, anunciou aqui na região, perdas acima de 50% em milho e soja, o que é muito grave, sem contar os outros produtos. No meu ponto de vista, é indiscutível que haverá uma liquides menor no mercado.
Somado a tudo isso, está o endividamento da população. O estimulo que o governo deu ao consumo acabou levando a população a um endividamento acima das suas possibilidades, com uma inadimplência aumentando consideravelmente. Em janeiro do ano passado, tínhamos 2% das famílias gaúchas inadimplentes, já em janeiro deste ano, 10% das famílias apresentam incapacidade de pagamento. Essa inadimplência é referente, principalmente, a pagamento de cartão de crédito, cujo juro é de 230% ao ano, cheque especial, 170% ao ano, carnês, automóveis, entre outros. A situação poderia ser melhor se o governo fizesse a sua parte.
COTRIJUI: A expectativa é sempre de que as coisas melhorem. O senhor diz que, segundo alguns indicadores, a tendência é de que a inflação fique nos patamares. Os mercados que o senhor citou, são fundamentais para o equilíbrio da balança, mas em meio a isso tudo, recebemos a notícia de uma contenção de bilhões no orçamento da união. O que isso vai influenciar no nosso agronegócio?
Dr. Argemiro Brum: A economia brasileira poderia ter reagido melhor à crise mundial. É verdade que enfrentamos bem a crise, graças à estabilização da economia, iniciada em 1994 com o plano real. Mas poderia ser melhor se o governo fizesse a parte que lhe cabe: diminuir o peso do estado na economia, ou seja, diminuir a ineficiência do estado, melhorando a qualidade dos serviços que oferece aos cidadãos, às empresas e ao agronegócio. Hoje, por exemplo, o agronegócio vem perdendo competitividade pelo alto custo dos impostos, das taxas que pagamos em relação à Argentina, Estados Unidos e outros concorrentes no mercado mundial. Isso não era comum para nós. Perdíamos espaço após a “porteira”, agora internamente isso também ocorre. E acontece pelo fato de o estado estar inchado, gastando mais do que pode, sendo necessário economizar urgentemente.
Mas o grande problema está na constituição, criada em 1988 e batizada de Cidadã, que na época, pós ditadura militar, que apresenta muito mais vantagens que deveres para os cidadãos. Todos querem tirar vantagem e ninguém quer pagar a conta. O resultado disso é que as coisas ficam difíceis, e o estado começa a pesar consideravelmente na economia. Exemplo disso é o corte de R$ 55 bi no orçamento para 2012, anunciado pelo governo, que não é muito, considerando o orçamento anual que é de 1 trilhão de reais. Pela constituição o corte pode ser realizado, infelizmente, na saúde, educação, transporte, infraestrutura, agricultura e coisa do tipo. Esse corte acabou caindo sobre a saúde pública, que já é precária. E para nós do agronegócio, o corte foi de R$ 2 bi no Ministério da Agricultura, o que representa quase metade do orçamento para esse ano.
De um jeito ou de outro, nossa economia agrícola será afetada, principalmente para nós do sul, penalizados pela seca. O corte é feito onde não poderia, mas é onde a constituição permite que seja realizado. Há uma ineficiência muito grande nesse contexto, e não fazem as reformas necessárias, como a previdenciária ou tributária, que no ano passado, foi recolhido quase R$ 1 tri pela federação. O conjunto dos impostos foi de R$ 1,5 tri de impostos recolhidos, e o que vem de retorno para a sociedade em recursos públicos adequados? Cortes.
De fato é difícil competir, apesar de, no conjunto, a sociedade estar vivendo melhor graças à estabilização. Nós fizemos uma coisa fundamental: estabilizamos a economia, controlamos a inflação, mantemos ela baixa e assim funciona. Mas falta a segunda parte, que é ajustar o peso do estado na economia com as grandes reformas necessárias, que tanto se fala e nada se faz. Esse é o ponto fundamental. Ou fizemos isso, ou no futuro, nós caminhamos para ser “uma Grécia”, onde abusaram em gastar mais do que podiam e a população está pagando e vai pagar por muito tempo ainda. O Brasil precisa cuidar para não cair nessa situação, que começa a se construir lentamente nos últimos anos.