O Engº Agrº da COTRIJUI, Mário Jung, falou no último informativo da COTRIJUI ( 08.01) sobre a estiagem e a relação dela, no momento, com a cultura da soja e o que podemos imaginar para o futuro.
Segundo Mário, a situação é diferente em cada região, e elementos como a época de semeadura, as pancadas de chuva que receberam ou não, além de cada cultivar, influencia nas condições atuais de cada lavoura. A tecnologia usada é muito boa e os produtores aos quais a COTRIJUI prestou assistência técnica se prepararam para a estiagem. Temos fertilidade, ótimas cultivares, palhadas sob o solo e investimos muito na formação de raízes, tanto que, para arrancar um pé de soja hoje, ele se parece muito como arrancar uma guanxuma. Mas será que só isso vai resolver?
Algumas propriedades receberam uma quantidade significativa de chuva, entre 40 mm e 50 mm, nos últimos dias, e sem granizo. A soja reagiu bem e cresceu rapidamente. Já as lavouras que estão desde novembro sem receber chuva ou recebendo apenas garoas esporádicas de 5 mm a 20 mm, a soja não cresceu e tem poucas folhas, mas está viva. Isto devido à profundidade e quantidade de raízes. A prova disso, é que, onde o solo é raso, com laje de 30 a 40 cm, a soja já morreu ou está por um fio, analisa o Engº. Agrº.
Durante o processo de germinação e emergência as chuvas foram escassas, em outros casos houve pancadas em excesso, o que também prejudica, ou ainda houve completa falta de chuva, portanto, podemos até generalizar que há falha na linha de semeadura, que talvez tivessem sido compensadas se o ano fosse normal. Não sendo, temos perda na expectativa de produtividade. Na fase de desenvolvimento vegetativo (novembro e dezembro), foram ruins na maioria dos locais, e a soja não tem mais do que 1 ou 2 palmos de altura. Mesmo a soja sendo de ciclo indeterminado, se ela já entrou em floração, como a maioria, quando as chuvas retornarem ela vai crescer um pouco, mas não significativamente. Portanto, teremos, inevitavelmente, perdas na colheita.
Nessa hora, muitos se lembram do ano de 2005 e projetam a mesma fatalidade, tendo vontade de abandonar a lavoura e deixar a soja à sua própria sorte. Mas no momento não há como fazer comparação com 2005. Naquele ano tivemos chuvas bem distribuídas em outubro e novembro, e janeiro foi bom até dia 15. Chegamos a fevereiro com plantas altas, com grande quantidade de folhas e que necessitavam de muita água – ao contrario desse ano. Também possuíam raízes menos profundas, tanto pela tecnologia da época quanto pela sobra de água, fazendo com que ela crescesse mais a parte aérea do que em raiz. De fevereiro até metade de março não choveu, e fevereiro é o mês mais decisivo para o rendimento da soja.
Então, mesmo se chover bem em fevereiro, não vamos colher 70 sacas por hectare, pois dois componentes de rendimento foram perdidos: a altura na inserção das vagens e o número de plantas por hectare, o que já nos leva a ter redução na produtividade.
Outro componente de rendimento é o número de nós por planta, é ali que estarão concentradas as vagens. É por essa razão que com a soja de baixa estatura, quando chove bem no período de enchimento de grão, fica parecido com aquela “bola de vagens” que todos já viram algum dia, afirma Mário. Nesse componente de rendimento também temos perda, pois as plantas estão com menos hastes e, consequentemente, tem menos nós. Descartamos, então, a possibilidade de alta produtividade.
Tecnicamente, dizemos que a soja tem grande plasticidade, ou seja, grande capacidade de compensar o estresse hídrico sofrido nos diferentes estágios de desenvolvimento. No período de floração, que está ocorrendo agora, a soja perde 80% ou mais das flores, mesmo num ano de produtividade alta. Portanto, com a capacidade de recuperação, se ela perder todas as primeiras folhas, poderá segurar as últimas, e, como estamos falando de soja com ciclo indeterminado, a floração ocorre num período mais longo.
Essa capacidade de compensação vai até o período em que a última flor se transforme em vagem e, desse momento em diante, o número de vagens não aumenta mais. Mesmo que haja abortamento de vagens, a soja tenta produzir e chegar à sua produtividade aumentando o peso do grão, mas isso depende, também, de um componente genético que tem sua limitação.
O que é difícil de prever, é se vai chover em fevereiro. Alguns meteorologistas dizem que sim, outros que não. Então, não podemos desistir da lavoura, deixar as invasoras roubar o pouco de água que sobrou para a soja. Além das pragas como percevejo, ácaro, lagartas e outros. É preciso que a soja chegue viva no momento em que as chuvas voltarem para poder expressar sua capacidade de reação. Se você acredita, tem que dar essa força, controlando o inço que está se desenvolvendo na lavoura.
A soja é impressionante, ela sozinha não desiste. Ela quer sempre produzir.
Mário Jung, Gerente Agrotécnico da COTRIJUI. (informativo COTRIJUI todos os domingos, das 08:00hs às 08:15hs, em cadeia de rádios)