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15h46

LIDERANÇAS RURAIS MOSTRAM PREOCUPAÇÃO EM CARTA

CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA


O Brasil assistiu, nestes últimos anos, a uma progressão significativa do agronegócio no contexto da economia nacional. O meio rural modernizou seu sistema de produção e buscou se adaptar aos novos tempos de globalização e economia aberta. O resultado deste esforço, que contou igualmente com o apoio dos diferentes governos, se encontra no fato de que o agronegócio, em 2004, correspondeu a 30% do PIB total do país e a 40% das exportações nacionais, que foram recordes (pelo segundo ano consecutivo, todo o superávit comercial brasileiro foi bancado pelo agronegócio, na medida em que no total alcançamos US$ 33,7 bilhões e o agronegócio registrou um superávit de US$ 34,1 bilhões). A economia em geral foi alavancada pelos inúmeros investimentos que o setor realizou neste período, na busca constante de modernização, seguindo as indicações tecnológicas, as quais sempre estiveram apoiadas pelos encaminhamentos oficiais.

Esta pujança de um setor, que historicamente sempre caracterizou a competitividade comercial brasileira no exterior, auxiliou na geração de milhares de empregos e a consolidação de famílias rurais no campo, inclusive junto às regiões de minifúndio.

Ora, este sucesso nacional, que colocou o Brasil como um país de primeiro mundo no setor primário, para utilizarmos o sentimento europeu, está ruindo rapidamente nestes últimos meses, com tendência à geração de uma crise estrutural sem precedentes neste ano de 2005.

Utilizando o exemplo da soja, que representa, através de seu complexo (grão, farelo e óleo), aproximadamente 10% das exportações nacionais, e que é um dos principais eixos econômicos, senão o principal, do país, atingindo praticamente a todos os Estados brasileiros, percebemos claramente a gravidade da situação.

Este produto assiste, mesmo num momento de produção recorde (61 milhões de toneladas projetadas), um enorme prejuízo econômico nesta safra. No Rio Grande do Sul, a realidade é ainda pior, pois nem mesmo o clima tem colaborado nestes últimos dois anos. Assim, hoje, o produtor gaúcho de soja, diante de seus custos de produção, precisaria colher em torno de 36 sacas por hectare ao preço atual de R$ 26,00/saca, com tendência a R$ 20,00 no momento da colheita. Apenas em termos de custos operacionais, e considerando o plantio da soja transgênica, naturalmente mais barata, o aumento é de 42% entre as safras de 2003/04 e 2004/05 (o custo operacional passando de R$ 663,00/ha para R$ 941,20/ha no período). Não há produtividade média que pague tal defasagem. Somam-se a isto as perdas com as culturas de inverno, como é o caso do trigo, cujo preço recebido pelo produtor estacionou em R$ 18,00/saca enquanto o ponto de equilíbrio, a um preço de R$ 23,00/saca (abaixo portanto do preço mínimo estabelecido pelo governo), seria de 32,8 sacas por hectare para pagar os custos de produção.

Sabemos que o mercado internacional das commodities apresenta um recuo sensível de preços. Isto o agronegócio sabe gerenciar e aprendeu a ser eficiente diante das oscilações normais de mercado. No entanto, boa parte das perdas econômicas que o setor vive atualmente está centrada numa situação artificial, a qual vem sendo aproveitada pelos oligopólios do setor, porém, destruindo o sistema produtivo e, logo em seguida, por extensão, os demais setores situados a montante e a jusante da produção, com uma conseqüente geração de desemprego, já praticada em muitas regiões do país neste momento. Trata-se da violenta defasagem cambial, na medida em que vivemos um longo período em que o real está sobrevalorizado em relação ao dólar. Pelo cálculo da paridade de poder de compra, conforme a teoria da economia internacional, e tomando como referência o valor do dólar em agosto de 2003, que era de R$ 3,00, na oportunidade considerado normal, a referida defasagem chega a 22,3% neste momento. Ou seja, a moeda brasileira deveria estar numa relação de R$ 3,18 por um dólar. Na prática, vivemos um câmbio ao redor de R$ 2,60, fato que destrói ainda mais o poder aquisitivo dos produtores rurais, comprometendo totalmente a sobrevivência de suas cooperativas, os pagamentos (pois todos estão com financiamentos a pagar, sendo que 50% realizados com recursos de fontes não oficiais), e a cadeia produtiva inteira. O efeito de tal defasagem cambial, diretamente sobre o preço médio da soja pago ao produtor gaúcho, neste momento, é de uma perda de seis reais por saca. Ou seja, ao invés dos R$ 26,00 o produtor deveria estar recebendo R$ 32,00/saca.

Após tantos esforços e recursos despendidos pela sociedade brasileira em geral e pelo setor rural em particular, através de investimentos de longo prazo, estamos diante de uma catástrofe econômica provocada por uma situação artificial do câmbio. A mesma, se penaliza o setor produtivo enormemente, não é compensada nem mesmo pela redução no preço dos insumos utilizados nas lavouras. Os mesmos, pelo contrário, continuam aumentando de preço, asfixiando grande parte do agronegócio brasileiro.

Nestas condições, reivindicamos uma atenção urgente do governo brasileiro e da classe política em geral a fim de se criar rápidas alternativas ao processo destruidor que se vive. A correção do câmbio é uma condição “sine qua non”. Porém, caso ela não seja possível no curto prazo, em razão das questões externas ao país, que sejam criados mecanismos compensatórios eficientes, que não sejam apenas voltados ao crédito rural oficial pois este chegou a uma minoria de produtores. A gravidade do problema é tão grande, que o Brasil irá perder enormemente seu espaço no comércio agrícola mundial, aumentar fortemente o desemprego e criar um ambiente social tenso o bastante para comprometer qualquer possibilidade de aumento futuro de nosso PIB no curto e médio prazo, alavanca de um tão sonhado desenvolvimento sustentável, desejado por todos e defendido por este governo constantemente.


Ijuí (RS), 11 de fevereiro de 2005





Prefeito Municipal de Ijuí

Prefeito Municipal de Coronel Barros

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ijuí

Presidente do Sindicato Rural Patronal de Ijuí

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Ijuí - ACI

Presidente da COTRIJUI

Reitor da UNIJUI

Presidente do Clube Amigos da Terra de Ijuí – CAT

Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas de Ijuí




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