A tecnologia da soja transgênica, que permite o uso do glifosato em pós-emergência da soja sem afetar a cultura, significou para os produtores a oportunidade de controlar as plantas daninhas de forma fácil e a baixo custo, reduzindo os gastos com herbicidas em até 70%. Entretanto, o uso repetido do glifosato levou à seleção de espécies daninhas resistentes ao herbicida. O problema, que começou nas videiras gaúchas há mais de dez anos, rapidamente se espalhou nas principais regiões produtoras de grãos no país. Discutir alternativas de manejo no controle de plantas daninhas é o objetivo dos organizadores do Workshop Resistência de Plantas Daninhas, que acontece dia 27 de julho, na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS).
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Leandro Vargas, a seleção de espécies de invasoras tolerantes é um problema antigo na agricultura brasileira. Um exemplo na década de 80 aconteceu no Rio Grande do Sul, com o uso do herbicida metribuzin (nome comercial Sencor; Lexone) no controle do leiteiro (Euphorbia heterophylla), que acabou selecionando espécies tolerantes nas lavouras de soja, tornando-se a principal planta daninha da época. O problema com o leiteiro foi resolvido com o lançamento de uma nova molécula herbicida, chamada imazaquin (nome comercial Scepter). O imazaquin foi então utilizado amplamente pelos produtores durante vários anos em áreas cultivadas com soja. Entretanto, o uso repetido do imazaquin resultou, em meados da década de 90, no surgimento das primeiras espécies daninhas resistentes identificadas no Brasil, o leiteiro (Euphorbia heterophylla) e o picão-preto (Bidens pilosa). Além dessas espécies resistentes, o imazaquin também selecionou plantas tolerantes, como o balãozinho (Cardiospermum halicacabum). “Os problemas que começaram em 1993 com essas duas espécies, hoje contabilizam 22 biótipos de plantas daninhas resistentes no Brasil. Os maiores vilões da lavoura de grãos são o azevém e a buva resistentes ao glifosato”, avalia Vargas, considerando que o uso do glifosato começou em 1997, “nenhum herbicida resiste ao uso repetido durante tanto tempo”. Conforme o pesquisador, o tempo para seleção de espécies tolerantes ou resistentes varia de dois anos (caso dos herbicidas inibidores da ALS) a até mais de 10 anos (caso do glifosato).
Não apenas na soja e no milho as plantas daninhas resistentes têm causado problemas, mas também nos cultivos de inverno, como trigo, cevada, centeio e aveia. Nos cereais de inverno, a presença de azevém e buva durante a emergência das plantas pode afetar o desenvolvimento da cultura, já que as plantas daninhas competem com a cultura por água, luz e nutrientes. Outro caso de resistência nas lavouras de trigo nos últimos anos é o nabo (Raphanus sativus) resistente aos herbicidas inibidores da enzima ALS.
“Os herbicidas provocam mudanças no tipo e na proporção de espécies de plantas daninhas que estão na lavoura. Isso se explica pelo fato do herbicida não controlar igualmente as espécies existentes na área, com isso algumas acabam sendo beneficiadas e se multiplicam. Nessas situações, plantas de baixa ocorrência na área podem se tornar um grave problema para o produtor”, alerta Leandro Vargas, lembrando que o uso de herbicidas ainda é o método mais rápido e eficiente de combater plantas daninhas em cereais, mas o uso contínuo e repetido do mesmo herbicida, ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação, inevitavelmente levarão à seleção de espécies resistentes. “O controle químico deve ser visto como uma ferramenta adicional e não como o único método de controle das plantas daninhas. Os herbicidas devem ser considerados como parte de um programa integrado de controle de plantas daninhas”, acrescenta o pesquisador da Universidade de Passo Fundo, Mauro Rizzardi.
Além de discutir a parte científica da resistência da resistência, o workshop de plantas daninhas vai agregar as principais empresas de agroquímicos do país para falar sobre as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas e as que estão prontas para serem disponibilizadas pela indústria química para prevenir e controlar a resistência aos herbicidas. A programação do evento está disponível no site da Embrapa Trigo, em www.cnpt.embrapa.br. Informações com a Revista Plantio Direto, através do e-mail revista@plantiodireto.com.br ou telefone (54) 3311-1235.
Foto: Crédito Leandro Vargas
Fonte: Jornalismo da Embrapa Trigo