A soja é muito mais do que apenas óleo e farelo. O grão que veio do Oriente e se tornou o mais cultivado do Brasil tem mil e uma aplicações, quase literalmente. Boa parte das cerca de 100 milhões de toneladas produzidas no país se transformam mesmo num desses dois subprodutos mais famosos. Mas a soja também pode virar maionese, margarina, biodiesel, queijo, quibe, compensados e até tinta. E também está presente em remédios e cosméticos.
De acordo com o pesquisador da área de utilização e pós-colheita da Embrapa Soja José Marcos Gontijo Mandarino, atualmente é possível encontrar num supermercado perto de 250 produtos que contêm soja. Por conta disso, não causa surpresa que o grão venha ganhando cada vez mais espaço na indústria – e não é apenas na de área de alimentos, não. Veja a seguir algumas das serventias desse grão versátil.
Alimentos
Sem o farelo de soja e seu fiel aliado, o milho, a criação comercial de aves e suínos não teria a importância gigantesca que assumiu em todo o mundo como geradora de alimento para a população. Mas, muito antes de ser usada como ração animal, a soja teve seu valor reconhecido pela dieta dos povos do oriente, que a consomem cozida, ainda verde, na forma de broto, fermentada, transformada em bebida ou em queijo (o tofu).
O povo do Ocidente levou mais tempo, mas também se deixou encantar pelos preparos desse grão rico em proteína e carboidrato. Ele apresenta ainda minerais como ferro, zinco, magnésio e potássio, e é fonte de vitaminas do complexo B.
A composição da soja casou perfeitamente com a tendência de consumo de produtos saudáveis, o que não escapou aos olhos da indústria de alimentos. Por conta disso, a proteína de soja se transforma em diversos produtos análogos à carne, como salsichas, hambúrgueres, quibes e até nuggets. Um elenco de artigos que só tende a aumentar, acompanhando o sucesso da pesquisa por variedades de sabor mais suave e a procura crescente do mercado sustentável.
A farinha de soja desengordurada é matéria-prima para outros tantos alimentos. De composição semelhante ao farelo de soja, mas com maior qualidade e obtido de forma mais sofisticada, essa farinha pode ser usada para fazer massas, barrinhas de cereais, alimentos infantis e até balas. Segundo Mandarino, da Embrapa, nos Estados Unidos há pesquisas para transformar a farinha desengordurada em caixas, conglomerados e laminados especiais. Uma espécie de “madeira de soja”.
É desse produto que se extrai a proteína de soja, que é cheia de qualidades valorizadas pela indústria. Além de virar alimento, ela também pode ser transformada em adesivo, em revestimento de papel, para dar um acabamento plastificado, ou ainda para dar uma cobertura brilhante em chocolates e confeitos.
Indústria
Na indústria de alimentos, a proteína também pode ser usada como um veículo para tornar os produtos mais leves e aerados, permite a incorporação de água para elevar o volume, dá mais elasticidade a massas e ainda ajuda a incorporar mais facilmente aromas naturais ou artificiais aos alimentos. Tudo sem deixar gosto de soja.
O óleo de soja, como qualquer óleo vegetal, pode ser refinado na indústria e usado na fabricação de margarina, maionese, gordura vegetal, entre outras aplicações. O material também pode servir para a confecção de inseticidas, sabão, cimento à prova d’água e desinfetantes.
O óleo de soja também é um ótimo ingrediente para tinta de impressão. Segundo o pesquisador da Embrapa, ele leva vantagem sobre outros óleos – como o derivado de petróleo – por apresentar secagem mais rápida e se misturar bem com os pigmentos. Por essa razão, um jornal impresso com essa tinta não suja as mãos do leitor.
Mandarino afirma que os EUA investiram muito na “soy ink” (tinta de soja) no início dos anos 2000, como um diferencial para produtos com apelo “verde”. Segundo ele, o jornal Chicago Tribune é impresso integralmente com essa tinta, que também já foi utilizada experimentalmente por periódicos brasileiros. Ele conta também que os americanos costumam usar a “soy ink” quando publicam material de congressos e estudos sobre soja.
Os ácidos graxos extraídos do óleo de soja são usados como veículo para ingredientes nas indústrias farmacêutica e de cosméticos. O glicerol, outro componente, também vai na fabricação de fármacos e serve para fazer sabão.
Fibra
Já existem no exterior pesquisas para a confecção de um tecido à base de soja. A ideia, segundo José Marcio Mandarino, é substituir fibras sintéticas por essa fibra vegetal, que poderia ser utilizada em revestimentos, por exemplo, com a vantagem de ser biodegradável. No entanto, o processo de fabricação envolve muita tecnologia, e, por enquanto, não é comercialmente viável.
Fonte: Canal Rural