SITUAÇÃO GERAL DA FERRUGEM NO PAÍS
Em 11 de janeiro foram contabilizados 618 relatos de focos de ferrugem em lavouras comerciais desde o início da safra, sendo 242 registros nos primeiros dez dias do ano de 2010. Desses, a maioria ocorreu na região Centro-Oeste, com 188 novos relatos (Fig. 1), destacando-se GO (90), MS (75) e MT (23). No sul do país, o PR registrou 48 novos relatos, totalizando 121. No RS a ferrugem avançou (5 novos relatos) para novos municípios, totalizando 9 relatos. O primeiro foco em SC foi registrado em Abelardo Luz. Em SP e MG não houve novos relatos e os estados da BA e TO ainda continuam sem registro oficial de ferrugem.
ANÁLISE COMPARATIVA DA DISPERSÃO
O no total de relatos no país até essa data mantém-se acima do registrado nas outras safras para o mesmo período. Isso se deve principalmente à antecipação da ocorrência da doença em lavouras comerciais quando, no final do mês de dezembro, já se registrava o dobro do número de focos comparado à safra 2006/07 (safra referência de condições de epidemia), enquanto que a diferença diminuiu até 11 de janeiro. O mesmo número de focos relatado na safra atual para a data de 11 de janeiro só foi atingido em 29 de janeiro na safra de 2008/09 e em 24 de janeiro na safra 2007/08. Verifica-se, portanto, uma antecipação que se mantém em torno de 25 a 30 dias na safra atual em relação às duas anteriores.
AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO DE RISCO
As tendências climáticas para o trimestre indicam chuvas acima do normal para as regiões do centro e sul do país, enquanto que abaixo do normal para o nordeste. Essa situação indica maior risco de ferrugem de maneira geral na safra para as duas primeiras regiões. No entanto, as variações das condições climáticas no período da safra são importantes para definir a expansão das epidemias bem como o sucesso do manejo. A partir desse boletim informativo serão analisados períodos menores de tempo considerando as condições climáticas observadas nas últimas semanas, para indicar áreas onde deve ser intensificado o monitoramento ou a prevenção, aliado ao prognóstico de risco para o período semanal que podem auxiliar nas tomadas de decisão. A informação é apresentada na forma de mapas de risco climático, separadamente para cada grande região.
REGIÃO NORTE – NORDESTE
As condições climáticas variaram de baixa a moderadamente favoráveis para a doença nos primeiros dez dias do ano. A condição de baixo risco deve permanecer em função da ausência de focos de ferrugem na região. A previsão para o período semanal é de continuidade de baixo a moderado risco na BA e MA com alguns locais de mais alto risco em TO. Tais condições poderão levar ao atraso no aparecimento da doença na região.
REGIÃO CENTRO-OESTE
A ausência de chuvas freqüentes nos primeiros dez dias do ano resultou em risco climático moderado para as epidemias em praticamente todos os estados, exceto no norte do MT. No entanto, há de ressaltar que o grande número de relatos ocorridos no período foi devido a condições ambientais favoráveis no mês de dezembro e não no mesmo período, o que representa forte “pressão” de inóculo. A previsão para a próxima semana é de retorno das chuvas o que aumentará significativamente o risco climático da doença em todas as regiões produtoras e exigirá atenção redobrada quanto ao monitoramento e planejamento do manejo com fungicidas.
COMENTÁRIOS REGIONAIS
MATO GROSSO (Fabiano Siqueri -Fundação MT, Valtemir José Carlin - Agrodinâmica) Iniciada a colheita no MT, mais de 90% das lavouras que se encontram no campo estão entre R1 a R5 e todas as áreas monitoradas apresentam ferrugem. O número de relatos é menor para as regiões de Canarana, Querência, Água Boa (Leste do Estado). Fortes epidemias com potencial de perdas estão sendo relatadas na região da Serra da Petrovina (município de Pedra Preta), no sul do Estado.
Na região de Parecis, devido à baixa precipitação no mês de outubro, a janela de plantio se estendeu até início de dezembro. Portanto tem lavouras que estão recebendo a primeira aplicação de fungicidas. Recomendam-se atenção máxima, dada a grande disseminação e as condições extremamente favoráveis previstas para a semana. Evitar medidas de alto risco de falhas no manejo como intervalos entre aplicações maiores que 14 dias, redução de dose e aplicação de triazóis isoladamente.
GOIÁS (Luis Henrique Carregal - FESURV, Maurício Meyer - Embrapa Soja)
No sudoeste Goiano as primeiras áreas começam a ser colhidas, mas cerca de 95% da soja ainda está no campo. Desse total, 40% apresenta-se mais adiantada (de R5.4 a R6) e o restante de R2 a R5.3. Praticamente em todas as áreas há incidência da doença e nas semeaduras tardias, a doença iniciou-se desde a fase vegetativa. Na região central do Estado, com altitudes de cerca de 1000m, também tem apresentado aumento no número de casos, com a cultura em início de formação de grãos. Devido à ocorrência em todo o Estado, recomenda-se atenção máxima ao controle da doença, mesmo onde a cultura se encontra no final do ciclo de desenvolvimento.
MINAS GERAIS (Dulândula S.M. Wruck, Epamig)
Na região de Uberaba os produtores que estão com a lavoura entrando em estágio reprodutivo estão apreensivos e preparados mais de duas ou três aplicações com a perspectiva de continuidade da chuva. Além da ferrugem, há preocupação com o mofo branco na região da Chapada.
MATO GROSSO DO SUL (Edson Borges – Fundação Chapadão)
Na região norte do estado o laboratório da Fundação Chapadão registrou o maior número de diagnoses positivas comparado às três safras anteriores. A incidência da ferrugem é generalizada, os níveis de severidade estão progredindo a partir do baixeiro e há preocupação com produtores que não fizeram aplicações no momento oportuno.
REGIÃO SUL
No PR o risco climático foi diferenciado entre as regiões onde o maior risco ocorreu no norte do estado nas últimas semanas. Já no RS, as chuvas abundantes se concentraram na região central do estado no mesmo período. O prognóstico para a região Sul indica alto risco de condições climáticas favoráveis à ferrugem em todas as regiões do PR e SC. No RS, as condições irão variar de moderado a alto risco no norte do Estado, enquanto que é prevista condição desfavorável no sudoeste e noroeste.
COMENTÁRIOS REGIONAIS
PARANÁ (Rafael Soares – Embrapa Soja)
O oeste do Paraná apresenta o maior número de focos de ferrugem no momento, por se tratar da região onde a semeadura é realizada mais cedo, sendo também onde foram relatados casos de maior severidade da doença, porém em lavouras em final de enchimento de grão ou início de maturação. No máximo duas aplicações de fungicida foram realizadas. De forma geral, apesar de a doença ter aparecido mais cedo e do alto risco climático, os agricultores tem conseguido realizar as aplicações de fungicida no momento adequado. Recomenda-se monitoramento intenso das lavouras e uso de misturas comerciais de triazóis e estrobilurinas onde a doença já foi constatada.
RIO GRANDE DO SUL (Emerson Del Ponte – UFRGS)
Em plantios antecipados na região noroeste do estado já se encontram focos de ferrugem desde o mês de dezembro, em níveis epidêmicos. Outros focos detectados nas demais regiões indicam mais alta pressão de inóculo na safra atual que exigirá atenção às condições de risco durante o mês de janeiro para orientar o monitoramento e planejamento das aplicações. A influência do El Niño na região como um todo significa maior risco da doença atingir níveis severos de maneira geral no RS para detecções a partir do final de janeiro, quando deve aumentar significativamente o número de relatos em lavouras que passarão da fase de florescimento.
COMENTÁRIO GERAL
Devido ao avançar da safra e as primeiras lavouras já se encontrarem em fase de enchimento de grãos/ colheita deve-se atentar para as orientações do CAF de se priorizar a utilização de misturas prontas de fungicidas nas reaplicações ou nas primeiras aplicações das lavouras semeadas mais tardiamente devido a possível seleção de populações menos sensíveis do fungo P. pachyrhizi aos fungicidas do grupos dos triazóis, como observado nas safras 2007/08 e 2008/09. Os intervalos para as reaplicações devem ser reavaliados para cada situação, principalmente nas regiões com previsões de chuvas freqüentes e alto inóculo proveniente das primeiras semeaduras.
INFORMATIVO DE RISCO - CONSÓRCIO ANTI FERRUGEM - ANO 1, N. 2, JANEIRO 2010
CRÉDITOS
O informativo é elaborado com base nas informações coletadas pelos laboratórios, análises climáticas, epidemiológicas e rodadas dos modelos de previsão elaboradas pelo Laboratório de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alimentado com dados de precipitação observada e prognóstico para sete dias gerados no CPTEC-INPE. As classes de risco climático dos mapas são definidas em função das condições climáticas favoráveis à doença e não levam em conta o estágio fenológico das lavouras, presença de inoculo na região e outras práticas que podem influenciar no risco da doença. Portanto, as informações devem ser interpretadas por especialistas e por técnicos que podem utilizá-la como suporte à tomada de decisão no manejo da doença.
ALERTA SOBRE O USO DAS INFORMAÇÕES
Esta informação é disponibilizada gratuitamente ao público em geral, porém, nenhuma garantia implícita sobre sua acurácia é dada pela UFRGS, CPTEC ou INPE. O uso das informações contidas nesse boletim informativo é de completa responsabilidade do usuário.
EQUIPE RESPONSÁVEL
Emerson M. Del Ponte, Dr. Fitopatologista (UFRGS)
Thiago V. dos Santos, MSc., Meteorologista (UFRGS)
Piérri Spolti, MSc., Fitopatologista (UFRGS)
Cláudia Godoy, Dr. Fitopatologista (Embrapa Soja).
COLABORADORES DESSE INFORMATIVO
Chou Sin Chan, Dra. Meteorologista (CPTEC) e Diego Chagas, Meteorologista, (CPTEC).
Membros do CAF: Fabiano Siqueri (Fundação MT), Luis Henrique Carregal (FESURV), Dulândula Wruck
(Epamig), Valtemir Carlin (Agrodinâmica), Maurício Meyer (Embrapa Soja), Rafael Soares (Embrapa Soja),
Edson Borges (Fundação Chapadão),
APOIO
As ações de pesquisa são financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -
CNPq e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, por intermédio da Secretaria de Defesa
Agropecuária – DAS (Edital CNPq/MAPA/SDA Nº 064/2008).
Contatos: emerson.delponte@ufrgs.br - Fone: (51) 3308-6908
Disponível na Internet em: http://www.consorcioantiferrugem.net