Os Estados Unidos e a Nova Zelândia são países que servem como referência mundial em produtividade na atividade leite, representando dois sistemas de produção contrastantes. Nos Estados Unidos, onde predomina o sistema de confinamento, a produtividade média é de 30 litros/vaca/dia. Já na Nova Zelândia as vacas são mantidas a pasto e a produtividade é medida por área, com média de 14.700 litros/hectare/ano.
Tendo esses números como parâmetros, percebe-se que a pesquisa desenvolvida em Cruz Alta pela CCGL Tec/Fundacep supera ambas as realidades internacionais, com médias de 32 litros/vaca/dia e 16.000 litros/hectare/ano. É interessante notar que estes números estão sendo obtidos num sistema próprio, desenvolvido pela pesquisa local, que não se espelha nem no sistema americano nem no neozelandês.
“Nossas vacas permanecem o tempo todo no pasto, mas nos valemos da suplementação com concentrados (ração)”, explica Wagner Beskow, pesquisador responsável pelo Tambo Experimental CCGL Tec. “Estamos rompendo com dois tabus: o primeiro de que alta produtividade por vaca somente é possível em confinamentos e, o segundo, de que não é viável um sistema que dependa de alimento concentrado”, informa o pesquisador.
Segundo a CCGL Tec, a produtividade média obtida pelos produtores gaúchos é de 8 litros/vaca/dia ou 1.600 litros/hectare/ano. Entre os produtores CCGL este número era de 11 litros/vaca/dia ou 5.000 litros/hectare/ano em 2007, antes das novas técnicas de manejo desenvolvidas pela CCGL. A meta de longo prazo da pesquisa é gerar tecnologias que permitam com que os produtores associados às cooperativas do sistema CCGL atinjam 25 litros/vaca/dia ou 33.000 litros/ha/ano. Em março de 2010 a CCGL Tec pretende fazer um novo levantamento da realidade no campo para avaliar o grau de impacto da pesquisa e corrigir rumos onde necessário.
Segundo Wagner Beskow, há diversos casos de produtores que estão conseguindo aplicar com sucesso o que está sendo preconizado pela pesquisa. É o caso de um casal de produtores com 30 vacas em Ibirubá, cuja esposa assistiu uma palestra de uma hora da CCGL Tec apontando os pontos chaves que necessitam atenção e em apenas 30 dias conseguiu um aumento de 18% na produtividade das vacas (de 17 para 20 litros/vaca/dia). “Isso com redução de custo”, observa o pesquisador.
Outro exemplo recente são os produtores de Santa Rosa (Coopermil) Edgard e Rosane Bullmann, cuja propriedade está sendo trabalhada para se transformar em Unidade Demonstrativa da CCGL Tec. A idéia é que propriedades comerciais, simples, operadas por produtores iguais aos demais, sem injeção artificial de capital, possam aplicar as recomendações da pesquisa da CCGL Tec/Fundacep, obter resultados e servir de exemplo para os demais produtores do sistema CCGL. Nesta propriedade os trabalhos foram iniciados em setembro passado “e já foi possível atingir um aumento de 42% na produtividade do leite”, afirma Wagner Beskow. “Estamos convencidos que o que está limitando a produtividade no campo não é solo, nem clima, nem genética animal (ainda não), nem governos, nem nenhum outro fator estranho à propriedade rural, mas sim manejo alimentar dos animais e atitude das pessoas envolvidas, dois fatores estritamente humanos”, complementa o pesquisador.
“Buscamos um sistema de produção que ofereça aos nossos produtores a possibilidade concreta de atingirem a máxima eficiência econômica (o maior lucro possível) e não, necessariamente, a máxima eficiência técnica, representada pela máxima produtividade”. Por isso, embora seja destacado o aumento necessário na produtividade, as avaliações da CCGL Tec são focadas em resultado econômico. “Hoje os confinamentos no Brasil tem um custo médio de R$0,68/litro de leite produzido. Num sistema a pasto, bem manejado, consegue-se, de acordo com nossa pesquisa realizada em Cruz Alta, um custo de R$0,37/litro”. Porém, esta não é a alternativa que deixa maior renda líquida ao produtor, diz Beskow, mas sim um sistema de base forrageira com suplementação alimentar. “O sistema que desenvolvemos permite um resultado econômico (renda líquida) potencialmente 39% superior ao sistema unicamente a pasto e 143% superior ao confinamento”. Segundo Beskow, o confinamento ou mesmo o semi-confinamento só são viáveis economicamente para produtores que possuem um rebanho com alto padrão genético e que vendam animais superiores por bons preços. “Mesmo assim, é um sistema de alto risco e que necessita de preços ao produtor constantemente acima de R$0,74/litro para se justificar”, observa.
“Infelizmente, poucas pessoas estão dispostas a analisar esta questão de forma desapaixonada”, diz Beskow. “No início de nossas pesquisas, todas as possibilidades estavam abertas, mas quanto mais avançamos, mais nos convencemos de que a sobrevivência na atividade leite só será possível para os produtores que consigam combinar baixo custo por litro produzido, com alta produtividade por área e escala de produção compatível com a necessidade de cada família”. Segundo Beskow, isso passa obrigatoriamente por uma mudança radical na forma de condução do negócio. Sem conhecer custos, realizando investimentos errados e mantendo a ineficiência atual, não será possível resistir na atividade, afirma o pesquisador. “É, justamente, o que está acontecendo agora na Europa e nos Estados Unidos: custos elevados combinados com período de baixos preços, resultando em muitos produtores deixando a atividade”. Wagner Beskow afirma que o Rio Grande do Sul e, em particular, os produtores que adotarem as recomendações da pesquisa da CCGL Tec/Fundacep tem amplas condições de se destacarem como os produtores que atingirão a maior rentabilidade no leite em termos mundiais. “Há um longo caminho à frente, mas estamos todos trabalhando para isso”, resume o pesquisador, referindo-se ao trabalho conjunto entre CCGL Tec/Fundacep e os departamentos das cooperativas associadas.
Fonte: Assessoria de Imprensa da CCGL.