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13h11

BOAS PRÁTICAS COMO SOLUÇÃO

Nas últimas duas décadas, os produtores brasileiros aumentaram a média de produção de soja por hectare em 67% e o milho em média/ha em 150%. A eficiência foi mérito do produtor e também devido ao uso do plantio direto e boas práticas, aliado a pesquisas. Entretanto, paralelamente, alguns problemas tem se agravado no campo, como a ferrugem resistente a alguns fungicidas; lagartas e percevejos resistentes a inseticidas, bem como algumas plantas daninhas resistentes a herbicidas. Como conseqüência, o aumento no custo de produção. Para tratar do tema, foi realizado nesta quinta-feira o Encontro Nacional sobre Resistência de Plantas Daninhas, no Centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo, reunindo técnicos, agrônomos, pesquisadores, produtores e estudantes.

De acordo com o agrônomo e gestor da área técnica da Cooplantio, Dirceu Gassen, que foi responsável pelas considerações finais do evento, existe uma evolução do processo de seleção de populações resistentes: de plantas daninhas, pragas e doenças. Para isso, basta usar continuadamente, o mesmo processo na mesma lavoura, assim as populações se adaptam, se multiplicam, se estabelecem e se tornam um problema.

“Nos anos 70, no Brasil, usávamos um herbicida - trifluralina - que matava gramíneas. O produto foi usado por seis a oito anos e acabou selecionando o picão preto, que se tornou um sério problema. Posteriormente, passou-se a usar trifluralina com mitribuzina, que as vezes matava a soja e não a planta daninha. Mesmo assim, a mistura foi utilizada por mais sete anos aproximadamente, fazendo a seleção do leiteirinho. Em seguida, o controle passou a ser feito com septer e, em menos de 15 anos tínhamos a seleção de três plantas daninhas resistentes: leiteirinho, picão preto e saco de padre. “Estávamos no desespero do controle de plantas daninhas quando apareceu a soja transgênica em que se usava o glifosato para o controle e só sobrava soja na lavoura. Neste período, nem eram mais realizadas reuniões sobre herbicidas, porque foi um conforto extraordinário, uma vez que o problema estava resolvido”, explica Gassen.

Todavia, essa situação não durou mais do que uma década e os produtores novamente tiveram problemas de resistência. Hoje são várias espécies resistentes ao glifosato e outras se encaminhando para a resistência.

Como se encaminha a solução?

O agrônomo destaca que a solução está em fazer o que os produtores rurais sempre deveriam realizar: rotação de culturas. Quando se planta soja e um terço de milho, no milho se usa outras formas de controlar as plantas daninhas que fazem a supressão das que ocorrem em soja. No inverno, deveria ser cultivado trigo no sistema de produção, mas o principal é colher e plantar, jamais deixando área em pousio. “Pousio hoje é crime. Porque se abandona uma área disponível para as plantas daninhas que sobreviveram no verão anterior produzirem o máximo possível de sementes, usando água, luz solar, fertilidade do solo. Deveríamos incorporar o óbvio, o necessário, que é a cobertura permanente do solo. Aplicar a prática de colher e plantar, cobrir o solo, desenvolver culturas para melhorar a estrutura do solo, produzir mais raízes e com isso armazenar mais água. Práticas para melhorar a produção e continuar com metas de aumento na produção. E isso, diretamente, vai afetar a população de plantas daninhas. Precisamos fazer a supressão delas, cultivar culturas para não permitir o estabelecimento de plantas daninhas”, observa o agrônomo.

No encontro realizado na quinta-feira (09), as conclusões dos pesquisadores foram todas no sentido de que é essencial controlar com cobertura vegetal e palha, ambos são a chave no manejo de plantas daninhas resistentes a herbicida. Além disso, ficar na expectativa de que o químico é a única alternativa é um erro. “O químico é uma das práticas de supressão. Deveríamos fazer a rotação de culturas e rotação de grupos de herbicidas e de estratégias de controle”, acrescenta.

Gassen salienta que a eficiência da agricultura depende de pessoas. Pessoas com conhecimento, conhecimento aplicado na prática. “Precisamos da pesquisa para mais informação sobre cobertura vegetal, supressão efetiva de diferentes espécies, rigor no teste de agroquímicos e temos a necessidade de melhor eficiência de conhecimento da assistência técnica. Manejo de sistemas de produção e não usar práticas isoladas continuadamente”, defende.

Pragas de grande importância

As plantas daninhas se tornaram pragas de importância maior, porque as práticas que eram utilizadas há décadas já não funcionam mais. O nível de pragas atingiu sinal vermelho, segundo Gassen, porque hoje elas são resistentes aos métodos que eram usados. “Existem estratégias que temos necessidade de mudança de comportamento de manejo. Perdemos muitas batalhas com químicos no controle”, observa.

Milho RR

Para o professor e pesquisador da UPF, Mauro Rizzardi, não existe uma solução única para resolver a resistência de plantas daninhas, mas estratégias que devem ser associadas aos manejos culturais com métodos químicos, rotacionando herbicidas e aliar ao sistema de culturas adequado, agregando uma cultura na área, com cobertura do solo.

Na ocasião também foi abordado o milho RR. Conforme o professor, se trata de uma alternativa, mas tem que ser bem utilizado e não controlando as plantas somente com o glifosato para não cometer o mesmo erro feito com a soja RR. Caso contrário, vai aumentar a possibilidade de surgirem novas espécies resistentes ao glifosato.

Fonte: Diário da Manhã - Passo Fundo

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