Prática tradicional ajuda na conservação do solo, melhora o controle de plantas invasoras nas lavouras de verão e ainda pode gerar renda.
Na região Sul do Brasil, após a colheita das lavouras de verão, os produtores dão início à semeadura das culturas de inverno, como trigo, cevada e aveia, pois além da questão econômica – quando os preços colaboram – a introdução dessas culturas possui importante papel. Dessa forma, mesmo perante a incerteza de rentabilidade, a semeadura de inverno é imprescindível em função de seus benefícios indiretos.
Ela pode ser realizada através da incorporação, utilizando semeadoras, ou adotando a sobressemeadura, pratica que consiste em semear a aveia e ou a o azevem antes da colheita da soja, seja via terrestre ou aérea.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli, a sobressemeadura é uma pratica tradicional, utilizada principalmente no cultivo do arroz, visando a rotação de culturas e a formação de pastagens.
“Independente da cultura em que for realizada, a sobressemeadura traz a vantagem da antecipação no estabelecimento da cobertura, um adiantamento de até três semanas nas áreas destinadas ao pastejo, prática muito utilizada na região Sul em função da pouca oferta de alimento”, destaca.
Entretanto, Fantaneli aponta que a pratica demanda cerca de 20% a mais em sementes e que, no caso de semeadura terrestre, pode haver esmagamento de soja, a não ser que seja seguido o mesmo caminho do pulverizador.
APÓS A COLHEITA DA SOJA – O pesquisador explica que, quando a semeadura é realizada após a colheita da soja é possível realizar a adução com fósforo e potássio, caso o solo seja de baixa fertilidade, especialmente se a área for destinada ao pastoreio, o que a semeadura aérea não permite. “Em se ratando de sobressemeadura em solos de boa fertilidade, o produtor faz apenas a aplicação de nitrogênio e terá uma boa pastagem”, diz Fontaneli.
A semeadura deve ser realizada quando as folhas da soja começarem a cair, pois elas cobrirão as sementes e formarão um microambiente adequado.
Quanto a realizar a sobressemeadura em lavouras de milho, o pesquisador da Embrapa lembra que é muito importante analisar a restrição dos herbicidas que foram utilizados. “Outro fator é que o milho, a aveia e o azevem, demandam nitrogênio. Por isso que a sobressemeadura ou mesmo a semeadura tradicional da aveia e azevem é muito comum em lavoura de soja”, aponta,
Em algumas lavouras no Rio Grande do Sul, é comum a formação natural da vegetação após a colheita da safra de verão com azevem e aveia, sementes que permaneceram em dormência e que entram em germinação após a época de colheita do milho e da soja. No entanto, a formação de cobertura nestas áreas, geralmente é desuniforme. Assim, para se atingir uma lavoura de inverno adequada, a semeadura é fundamental, seja ela antes ou após a colheita da soja.
SOBRESSEMEADURA COM AVEIA – Entretanto, muitos produtores têm optado pela sobressemeadura, em função de seus benefícios. Para esta temporada, o engenheiro agrônomo e produtor em Passo Fundo, RS, Marcelo Waihrich, decidiu inovar. “Reservei uma área de 120 hectares e semeei a aveia antes da colher da soja. Agora, com a lavoura colhida, já estou com a cobertura de inverno em desenvolvimento”, revela.
Por se tratar de um experimento, Waihrich terceirizou a semeadura, realizada com um equipamento autopropelido que possui o mesmo distanciamento entre rodas de seu pulverizador, o que evitou perdas por esmagamento na soja.
No entanto, o produtor comenta que seu pulverizador possui 27 metros de barras e o equipamento que realizou a semeadura lança 20 metros. Desta forma, restaram 3,5 m em cada lateral sem sementes, formando uma faixa de sete metros, que será semeada no processo tradicional. “Se meu pulverizador tivesse 20 metros de barras, a semeadura teria ficado uniforme, porque a semente da aveia é muito leve, o que limita a distancia de lançamento”, comenta.
O que mais chama atenção são a velocidade e a agilidade na semeadura, além de economia em mão de obra, tempo e desgaste de equipamentos. “Neste sistema, o equipamento é capaz de semear 250 hectares por dia, 10 vezes mais se comparado ao processo tradicional de incorporação”, destaca Waihrich, comentando que outro benefício da tecnologia é que o solo não fica desprotegido por muito tempo, pois na hora de colher a soja, se o clima correr bem, a aveia já está nascendo.
Waihrich explica que realizou a semeadura quando a lavoura de soja começou a lourar, utilizando em torno de 30% a mais de sementes, pois nem todas germinam. “A folha da soja faz a cobertura da semente, que, contando com chuvas normais, germina e se desenvolve normalmente”, diz o produtor.
Fonte: Universo Agro