Pela segunda vez no último mês, importadores chineses decidiram cancelar a compra de soja brasileira, alegando quebra de contrato. O motivo: atraso no embarque causado por problemas de infraestrutura no Brasil.
A informação foi dada nesta quinta-feira (18) pelo senador e produtor de soja Blairo Maggi (PR), que criticou duramente os gargalos logísticos no Brasil. "É o fim do mundo", desabafou. Acompanhado do presidente da Aprosoja (Associação Brasileira de Produtores de Soja), Gabriel Silveira dos Santos, Maggi reuniu-se em Pequim com representantes do governo e de setores de exportação e importação de alimentos da China. Eles não souberam dizer qual o volume da compra cancelada, mas disseram ser "vários navios". Segundo Maggi, um dos compradores chineses que decidiu cancelar a compra contou ter sido obrigado a fechar sua processadora depois do atraso de 65 dias no embarque no porto de Santos.
No mês passado, a Sunrise, maior comercializadora chinesa de soja, anunciou que iria cancelar a compra de quase 2 milhões de toneladas do produto devido ao atraso provocado pela falta de infraestrutura no Brasil. Dos Santos disse que a China compra 60% da soja exportada pelo país e os danos gerados pelo gargalo logístico está fazendo o Brasil perder credibilidade. Os compradores chineses afirmaram que os entraves farão com que troquem a soja do Brasil pela dos Estados Unidos.
TRANSGÊNICO Outro assunto discutido por Maggi e Silveira em Pequim foi a demora na aprovação pelo governo chinês na aprovação de dois novos tipos de semente de soja transgênica. Maggi disse que tentou entender porque o processo, que costumava levar um ano, já dura o dobro, mas saiu sem resposta da conversa com o vice-ministro da Agricultura. "Cheguei confuso e vou sair mais confuso ainda." Os pedidos do Brasil à espera de aprovação das autoridades chinesas são para dois tipos de sementes transgênicas. Um é a Cultivance, da Embrapa-Basf, o outro a Intacta RR2, da Monsanto. Ambas foram aprovadas há um ano no Japão e na Europa, mas não pela China, disse o presidente da Aprosoja.
RESISTÊNCIA A resistência da China, conforme enfatizaram repórteres da mídia estatal que participaram da entrevista, tem base nos supostos riscos à saúde dos produtos transgênicos (geneticamente modificados). No ano passado, causou escândalo no país o caso de um arroz transgênico que teria sido testado em crianças da província de Hunan, no sul, em um estudo realizado por cientistas chineses e norte-americanos. Três milhões de sacas dessas sementes aguardam no Brasil a aprovação de Pequim e terão a validade vencida em setembro, mas o principal problema apontado por Maggi e Silveira não é o prejuízo imediato, mas a falta de informação para o planejamento a médio prazo.
MUDANÇA Se a China decidir barrar a soja transgênica, explicam, significará uma mudança drástica em toda a produção brasileira. Hoje, 70% da oleaginosa plantada no Brasil já é geneticamente modificada. Um dos motivos que levaram os produtores a investir na biotecnologia é a pressão do governo brasileiro contra o uso de inseticidas, afirmam. "De um lado, o governo brasileiro não quer que se use inseticida. De outro, o chinês não quer comprar uma tecnologia que dispensa inseticida. É complicado", disse Silveira.
Fonte: Folha de São Paulo