Daniel Godinho, secretário interino de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
Apontada por especialistas como uma ameaça à competitividade do Brasil no mercado internacional, a “comoditização” da pauta de exportação não coloca o país em desvantagem no comércio exterior. A avaliação não parte de nenhuma grande trading exportadora de grãos, mas do próprio governo federal. Em entrevista à Gazeta do Povo, o secretário interino de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Daniel Godinho, afirma que o agronegócio é e deve continuar sendo o maior motor da economia nacional porque sabe aproveitar oportunidades. Ele cita como exemplo o ano de 2011, quando os preços das commodities explodiram no mercado internacional. Naquele ano, o peso dos produtos básicos nos embarques brasileiros aumentou porque os exportadores valeram-se do bom momento para conquistar novos mercados, afirma o executivo.
Faz 12 anos consecutivos que o agronegócio sustenta o superávit da balança comercial brasileira. Como o senhor avalia a crescente participação do setor na pauta de exportação do país?
O agronegócio brasileiro é muito competitivo e isso não ocorre ao acaso. Foi uma conquista de empresários empreendedores que se alinharam a uma estratégia de pesquisa e tecnologia, com grande ajuda da Embrapa, que deu condições ao Brasil de ser o maior exportador mundial de etanol, carne de frango, suco de laranja, açúcar, café e soja em grão.
Mas estamos exportando commodity, não tecnologia ou conhecimento. Na sua visão, essa é uma característica desfavorável, que tira a competitividade do país?
Pode não parecer óbvio, mas cada safra produtiva brasileira é resultado de tecnologia e conhecimento. Dito isso, no entanto, é claro que devemos sempre buscar agregar valor aos produtos exportados. Porém, uma coisa não ocorre em detrimento da outra. A carne de frango serve de exemplo para o que estou falando. Em 2002, o Brasil exportou US$ 1,3 bilhão de carne de frango in natura e US$ 57 milhões de industrializada. No ano passado, foram exportados US$ 6,7 bilhões de carne de frango in natura, ou seja, cinco vezes mais que em 2002, e US$ 478 milhões de industrializada, o que representa oito vezes mais. É importante notar ainda que a participação da carne de frango industrializada no total exportado pelo país dobrou nesse período.
Como reverter essa tendência e passar a exportar produtos de maior valor agregado no agronegócio? O senhor acredita que isso também passa por uma possível revisão da Lei Kandir?
A questão da participação em si dos produtos básicos ou industrializados na pauta de exportações não deve nos fazer perder a perspectiva correta para avaliar a realidade. Em 2011, houve um aumento da participação dos produtos básicos nas exportações brasileiras e muitos avaliaram isso como ruim. No entanto, o que acontecia era um aumento significativo nos preços de commodities agrícolas e minerais, e os exportadores, evidentemente, souberam aproveitar o momento para vender os seus produtos. No ano passado, a participação dos industrializados voltou a crescer por conta de uma estabilização dos preços das commodities, fato esse que passou despercebido para muita gente. Tenho certeza também que será possível aumentar a agregação de valor com a desoneração de diversos setores produtivos da indústria e a renovação do Reintegra, regime especial que prevê a desoneração de resíduos de tributos indiretos (Cide, IOF, PIS, Cofins, etc.) sobre os produtos industrializados para as empresas exportadoras. As empresas beneficiadas fazem jus à reintegração equivalente ao porcentual de 3% da receita de exportação.
O Brasil tem alguma estratégia para ampliar e sustentar o espaço conquistado no mercado externo ou isso ocorre de uma maneira natural?
Sim, existe estratégia para obter ganhos no mercado internacional. Um caso emblemático foi o que ocorreu com as vendas de milho no ano passado. Com a quebra da safra norte-americana, o setor produtivo brasileiro se mobilizou e as vendas deste produto registraram um impressionante aumento de mais de 100%.
Fonte: Gazeta do Povo