O Portal Agrolink entrevistou com exclusividade a diretora-executiva do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia), Adriana Brondani.
Agrolink - O Brasil finalmente venceu o preconceito contra a transgenia?
Adriana Brondani - Os brasileiros vêm, ao longo dos anos, reconhecendo os benefícios do uso de tecnologia nas mais diversas áreas, inclusive na agricultura e na alimentação. O monitoramento de publicações e manifestações online sobre transgênicos realizado pelo CIB mostra que, em maio de 2010, a reação à palavra transgênico era majoritariamente negativa (68%). Dois anos depois, em maio de 2012 a reação do público à mesma palavra já estava equilibrada, com 50% de reações positivas.
O que aconteceu entre esses dois períodos é o mesmo que vem acontecendo desde a fundação do CIB, as pessoas estão tendo mais acesso a informações técnicas e científicas e, com isso, percebendo que a transgenia é uma tecnologia altamente regulamentada e que um produto geneticamente modificado (GM) é tão seguro quanto suas variedades convencionais. O último Trust Barometer, estudo feito pela consultoria Edelman e que mede a confiança das pessoas nas instituições, divulgado em março de 2013, reitera essa análise.
O levantamento mostra que, de maneira geral, o público informado tende a confiar mais nas informações do que o público não informado. Além disso, a maior prova da confiança dos brasileiros na biotecnologia é a expressiva adoção de sementes GM na agricultura, 89% da soja plantada no Brasil é transgênica, 76% do milho e 50% do algodão. De acordo com o mais recente relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), o Brasil cultivou em 2012 36,6 milhões de hectares de variedades transgênicas. Esse desempenho coloca o País em segundo lugar no ranking de adoção, atrás apenas dos Estados Unidos.
Agrolink - É possível afirmar que a agricultura precisa dos transgênicos para manter e melhorar sua performance?
Adriana Brondani - O objetivo de todas as tecnologias geneticamente modificadas (GM) já colocadas no mercado até agora é exatamente este: aumentar a performance na agricultura. Os 36 eventos agronômicos aprovados no Brasil hoje tem características agronômicas como a resistência a insetos, a tolerância a herbicidas ou as duas características combinadas. Essas são características que melhoram o desempenho das plantas no campo, facilitando o manejo, reduzindo perdas, assim, aumentando a produtividade.
Agrolink - Como os transgênicos podem ser decisivos para solucionar o problema da fome no mundo?
Adriana Brondani - O planeta hoje tem mais de 7 bilhões de habitantes. A previsão é que até 2025 sejamos 8 e, até o fim do século, 10 bilhões de habitantes. Uma das questões que esse crescimento populacional impõe é como alimentar esse número de indivíduos de maneira sustentável. O crescimento na produção de alimentos terá que ser acompanhado pelo aumento dos índices de produtividade no campo. O Brasil pode liderar este processo investindo em modificação genética.
Por meio da biotecnologia podemos conseguir variedades de plantas mais resistentes, adaptadas, nutritivas e produtivas, o que reduziria a pressão por novas áreas agrícolas e contribuiria para a sustentabilidade. Certamente, a biotecnologia é mais uma ferramenta para aumentar a oferta de alimentos em consonância com práticas sustentáveis e preservação do meio ambiente.
Contudo, serão necessárias ações integradas, que proporcionem mudanças nos sistemas de produção. Para tanto, é importante que se olhe para essa questão de maneira pragmática: a agricultura comercial, conduzida com padrões elevados de produtividade e qualidade, é uma parte fundamental do desafio de prover alimentos, fibras e biocombustíveis para todos os mercados.
Agrolink - Como a agricultura brasileira pode crescer ainda mais com a biotecnologia?
Adriana Brondani - A competitividade do agronegócio, particularmente o tropical, passa pela aplicação dos conceitos e ferramentas da biotecnologia moderna para a superação de limitações e para adição de novas funcionalidades à produção agropecuária. A introdução de novas características e novas variedades pode aumentar a produtividade e a variabilidade dos gêneros agrícolas brasileiros, contribuindo para o crescimento do setor primário.
Agrolink - O que se pode esperar da biotecnologia para o futuro?
Adriana Brondani - No curto prazo, devem ser adicionadas às variedades já disponíveis (soja, milho, algodão, canola, entre outros) resistências a outros insetos, tolerância a outros herbicidas e combinar diversas dessas características visando uma semente cada vez mais protegida.
No médio prazo, já é possível pensar na modificação genética de outras variedades (a exemplo da cana-de-açúcar, eucalipto, cítricos, trigo, arroz) com características agronômicas e também resistência a estresses abióticos (como tolerância a seca e resistência a solos com alto teor de salinidade). Para o futuro, ainda há a perspectiva de desenvolvimento de plantas com teor nutricional aumentado e que produzam substâncias com diferentes usos.
É importante ressaltar, entretanto, que para o contínuo desenvolvimento da biotecnologia é preciso reconhecer a autoria das tecnologias geradas depois de anos de muita pesquisa e investimento. É graças ao sistema de remuneração de tecnologias como a modificação genética que é possível criar um modelo de negócios sustentável, também do ponto de vista econômico, que permita reinvestimento em novas pesquisas. A proteção intelectual pode ser utilizada como ferramenta para a criação de um círculo virtuoso de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Fonte: Agrolink - Autor: Leonardo Gottems