O Fórum Nacional da Soja, ocorrido na Expodireto Cotrijal no dia 05/03, privilegiou temas de suma importância e atualidade, conforme a Carta do Fórum. Dois deles vamos aqui sintetizar.
O primeiro tema foi abordado pelo coordenador técnico da CCGL-Tec, pesquisador José Ruedell. Acompanhando a tendência mundial, embora o atraso ocorrido por questões ideológicas, o Brasil já é o segundo maior país do mundo em área de produtos transgênicos, atingindo a 36,6 milhões de hectares. Em termos de produto, a soja transgênica representa hoje 81% do total mundial produzido desta oleaginosa. Nessa realidade chega hoje a Soja Intacta RR2 PRO, que conta com um avanço considerável em três frentes: proteção contra lagartas; tolerância à herbicida glifosato; e significativo aumento de produtividade.
Mesmo assim, o produtor rural não pode prescindir da cobertura de solo e da rotação de culturas. A associação deste conjunto de técnicas de manejo do solo com a nova soja transgênica, em experimentos desenvolvidos pela CCGL Tec, acusaram um aumento de produtividade de 7,1 sacos/hectare (15,9%) em relação a soja RR. Experimentos em 20 locais distintos acusaram um ganho médio de 4,1 sacos/hectare em termos de produtividade. Ou seja, os estudos desenvolvidos pela CCGL Tec comprovam que os ganhos são evidentes com a nova tecnologia.
Dito isso, duas questões precisam ainda avançar mais. Em primeiro lugar, quanto ao custo de tal tecnologia aos produtores rurais. Haveria o risco de o produtor ficar escravo do processo? Ora, serão os produtores que dirão se estão dispostos ou não a pagarem o preço que vem sendo estabelecido pela empresa detentora da tecnologia Intacta, assim como em relação a outras tecnologias que estão surgindo. Em segundo lugar, a China, maior importador mundial de soja, ainda não aprovou o uso desta nova soja transgênica. E sem esse mercado, a tendência de seu desenvolvimento comercial ficaria comprometida.
24º FÓRUM NACIONAL DA SOJA: A ECONOMIA
O segundo tema foi assunto da palestra do economista da UFRGS, Marcelo Portugal. O mesmo destacou que a economia mundial não irá mudar em relação a 2012, acusando um fraco crescimento.
Assim, o Brasil não poderá contar muito com a recuperação mundial para este novo ano. Nesse contexto, ganha proporções maiores a política econômica interna. A inflação brasileira pode desacelerar, especialmente no segundo semestre, fato que permitiria ao governo manter o juro (Selic) em 7,25% ao ano durante 2013, porém, isso ainda está longe de ser garantido.
Na prática, é possível que a inflação continue subindo, de forma anualizada, até meados do ano. Em isso ocorrendo, o governo estará em um impasse: correr ou não o risco de manter os juros (Selic) em 7,25% ao ano até o final do primeiro semestre esperando que a inflação realmente ceda no segundo semestre.
O balizador para a tomada de posição oficial a respeito poderá vir a partir do anúncio da inflação de fevereiro. Se a mesma ficar em até 0,43% no mês, o governo tende a correr o risco. Em caso contrário, os juros tendem a se elevar a partir da próxima reunião do Copom, prevista para os dias 16 e 17 de abril. Pelo sim ou pelo não, o fato é que o governo tem como objetivo impedir que o final do ano chegue com uma inflação acima de 6,5% (no ano entre fevereiro/12 e janeiro/13 ela está em 6,18%).
Paralelamente, o câmbio deverá ficar abaixo de R$ 2,00, devendo fechar o ano ao redor de R$ 1,92 por dólar. Como já se sabe, para evitar usar o juro como instrumento de controle inflacionário, o governo está aceitando a revalorização do Real.
24º FÓRUM NACIONAL DA SOJA: A ECONOMIA (II)
Quanto à economia como um todo, o Brasil deverá assistir a uma recuperação, porém, não suficiente. O crescimento previsto para o PIB nacional, em 2013, ficaria em 3%, confirmando a tendência do mercado e contrariando o otimismo oficial que aposta em algo ao redor de 4%.
Em síntese, apesar das dificuldades e erros recentes na condução da economia nacional, há espaço para otimismo dos brasileiros. Isso devido a alguns fatores salientados: o juro real deve se manter baixo, entre 1,5% e 3% ao ano; a sociedade brasileira ainda tem espaço para se endividar, embora o espaço para um consumo maior venha diminuindo; não caímos em desesperança social como na Europa, pois melhoramos nos últimos 18 anos nossos fundamentos econômicos.
Porém, o processo tem sido muito lento em nosso país. Alguns pontos essenciais explicam tal lentidão, difícil de ser superada: uma carga tributária altíssima, sem retorno de serviços públicos adequados; reduções pontuais e seletivas de impostos, o que não é bom para a economia, já que o importante seria uma redução horizontal destes impostos; o Brasil não investe pesado em ciência e tecnologia; não possui uma educação básica boa (23% dos brasileiros ainda hoje são analfabetos funcionais); e nossos investimentos em infraestrutura são muito baixos. Sem superar esses obstáculos, será difícil para o país sair de um crescimento médio de 3% ao ano, hoje largamente insuficiente para as necessidades do Brasil.
Fonte: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DACEC/UNIJUI)