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07h16

CARTA DO 24º FÓRUM NACIONAL DA SOJA

Evento privilegiou três temas de suma importância e atualidade, entre eles as tendências para a economia brasileira e mundial.

O Fórum Nacional da Soja, em sua edição de 2013, privilegiou três temas de suma importância e atualidade: as perspectivas, desafios e oportunidades da soja transgênica Intacta; as tendências para a economia brasileira e mundial; e as perspectivas da produção, dos mercados e dos preços da soja.

O primeiro tema foi abordado pelo coordenador técnico da CCGL-TEC, pesquisador José Ruedell. Segundo o mesmo, o homem avançou em meio à polêmica científica. E a ciência, nesse contexto, foi alavanca para o homem chegar ao seu atual estágio de desenvolvimento. Na agricultura, a ciência foi e está sendo decisiva para que a produção de alimentos acompanhe o aumento da população, possibilitando mesmo derrubar, até hoje, os receios de Malthus.

Recentemente, a descoberta do sequenciamento do DNA nos colocou em outra dimensão quanto à compreensão da genética. É nesse quadro que entra a soja transgênica. Saímos do processo convencional para o biotecnológico, com a possibilidade de introduzirmos genes de interesse no DNA das plantas, independentemente da origem. Isso permite a regeneração das células das plantas, com a criação de resistência a insetos, intempéries, herbicidas e outros elementos. Trata-se de realizar o melhoramento das plantas em busca de uma produção alimentícia maior.

Todavia, tal movimento gera um debate intenso sobre os riscos ambientais e de saúde humana. Ora, a transgenia agrícola hoje, no mundo, permite, pela sua aplicação, a economia de 27,8 bilhões de litros de água; 231,6 milhões de litros de diesel; e a redução na emissão de CO2 que permite evitar o abate de 4,5 milhões de árvores. Portanto, um ganho ambiental enorme. Além disso, com os produtos oriundos da biotecnologia, levando-se em conta apenas a soja, o milho e o algodão transgênicos, o mundo ocupa 487,6 milhões de hectares. Se não houvesse essa solução tecnológica, para produzir a mesma quantidade desses produtos o mundo precisaria de 540,7 milhões de hectares, ou seja, 53,1 milhões de hectares a mais.

Nesse contexto, e acompanhando a tendência mundial, embora o atraso ocorrido por questões ideológicas, o Brasil já é o segundo maior país do mundo em área de produtos transgênicos, atingindo a 36,6 milhões de hectares. Em termos de produto, a soja transgênica representa hoje 81% do total mundial produzido desta oleaginosa.

Nessa realidade chega hoje a Soja Intacta RR2 PRO, que conta com um avanço considerável em três frentes: proteção contra lagartas; tolerância à herbicida glifosato; e significativo aumento de produtividade.

Mesmo assim, segundo Ruedell, o produtor rural não pode prescindir da cobertura de solo e da rotação de culturas. A associação deste conjunto de técnicas de manejo do solo com a nova soja transgênica, em experimentos desenvolvidos pela CCGL Tec, acusaram um aumento de produtividade de 7,1 sacos/hectare (15,9%) em relação a soja RR. Experimentos em 20 locais distintos acusaram um ganho médio de 4,1 sacos/hectare em termos de produtividade. Ou seja, os estudos desenvolvidos pela CCGL Tec comprovam que os ganhos são evidentes com a nova tecnologia. Assim, se continuarmos avançando nos estudos da biotecnologia poder-se-á ganhar R$ 80 bilhões nos próximos 10 anos.

Todavia, isso tudo requer controle, via a prática da área de refúgio, visando retardar o ganho de resistência dos insetos, especialmente a lagarta, aos novos produtos transgênicos.

Além disso, duas questões precisam ainda avançar mais. Em primeiro lugar, quanto ao custo de tal tecnologia aos produtores rurais. Haveria o risco de o produtor ficar escravo do processo? Ora, serão os produtores que dirão se estão dispostos ou não a pagarem o preço que vem sendo estabelecido pela empresa detentora da tecnologia Intacta, assim como em relação a outras tecnologias que estão surgindo. Em segundo lugar, a China, maior importador mundial de soja, ainda não aprovou o uso desta nova soja transgênica. E sem esse mercado, a tendência de seu desenvolvimento comercial ficaria comprometida.

A segunda palestra foi proferida pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, senhor Marcelo Portugal. O mesmo destacou que a economia mundial não irá mudar em relação a 2012, acusando um fraco crescimento. A União Europeia continuará em recessão, a China ainda com um crescimento baixo para seus padrões históricos, e os EUA com um avanço tímido de 2% no máximo.

Assim, o Brasil não poderá contar muito com a recuperação mundial para este novo ano. Nesse contexto, ganha proporções maiores a política econômica interna. O palestrante fez questão de frisar que a inflação brasileira pode desacelerar, especialmente no segundo semestre, fato que permitiria ao governo manter o juro (Selic) em 7,25% ao ano durante 2013. Entretanto, a reunião do Copom desta semana (encerramento previsto para este dia 06/03) é que sinalizará o rumo dos juros futuros no país. Ora, se a inflação deverá subir até meados do ano, o governo estará em um impasse: correr ou não o risco de manter os juros (Selic) em 7,25% ao ano até o final do primeiro semestre esperando que a inflação realmente ceda no segundo semestre. O balizador para a tomada de posição oficial a respeito poderá vir a partir do anúncio da inflação de fevereiro. Se a mesma ficar em até 0,43% no mês, o governo tende a correr o risco. Em caso contrário, os juros tendem a se elevar a partir da próxima reunião do Copom, provavelmente em abril. Pelo sim ou pelo não, o fato é que o governo tem como objetivo impedir que o final do ano chegue com uma inflação acima de 6,5% (no ano entre fevereiro/12 e janeiro/13 ela está em 6,18% ao ano).

Paralelamente, o câmbio deverá ficar abaixo de R$ 2,00, devendo fechar o ano ao redor de R$ 1,92 por dólar. Como já se sabe, para evitar usar o juro como instrumento de controle inflacionário, o governo está aceitando a revalorização do Real, mantendo o mesmo abaixo de R$ 2,00 por dólar. Isso, para os produtores rurais, que têm na exportação da soja seu ponto essencial, significa menores ganhos no preço do produto.

Quanto à economia como um todo, o Brasil deverá assistir a uma recuperação, porém, não suficiente. O crescimento previsto para o PIB nacional, em 2013, ficaria em 3%, confirmando a tendência do mercado e contrariando o otimismo oficial que aposta em algo ao redor de 4%. Já o Rio Grande do Sul, graças a recuperação da safra de verão, deverá assistir a um crescimento econômico maior no corrente ano, podendo o mesmo se situar acima de 5%.

Em síntese, apesar de alguns sinais positivos em termos mundiais, como o fato da economia chinesa ter parado de recuar e o fato da inflação e os juros internacionais prosseguirem baixos, a economia mundial não deverá mudar de ritmo em 2013.

Por outro lado, se os juros subirem, isso não significa que voltemos a níveis de 13% a 14% ao ano em 2013. O máximo esperado seria algo ao redor de 9%.

Em síntese, o professor Portugal afirmou que, apesar das dificuldades e erros recentes na condução da economia nacional, há espaço para otimismo dos brasileiros. Isso devido a alguns fatores salientados: o juro real deve se manter baixo, entre 1,5% e 3% ao ano; a sociedade brasileira ainda tem espaço para se endividar, embora o espaço para um consumo maior venha diminuindo; não caímos em desesperança social como na Europa, pois melhoramos nos últimos 18 anos nossos fundamentos econômicos.

Porém, o processo tem sido muito lento em nosso país. Alguns pontos essenciais explicam tal lentidão, difícil de ser superada: uma carga tributária altíssima, sem retorno de serviços públicos adequados; reduções pontuais e seletivas de impostos, o que não é bom para a economia, já que o importante seria uma redução horizontal destes impostos; o Brasil não investe pesado em ciência e tecnologia; não possui uma educação básica boa (23% dos brasileiros ainda hoje são analfabetos funcionais); e nossos investimentos em infraestrutura são muito baixos. Sem superar esses obstáculos, será difícil para o país sair de um crescimento médio de 3% ao ano, hoje largamente insuficiente para as necessidades do Brasil.

Enfim, a terceira palestra esteve a cargo do sócio-diretor da Agroconsult, senhor André Pessoa. Segundo ele, o mercado mundial da soja continua em desequilíbrio, com estoques baixos diante de uma demanda alta. Nesse contexto, o patamar de preços se mantém elevado. Auxilia nessa tendência o fato de que a demanda mundial deve continuar crescendo em favor de produtos industrializados.
No curto prazo, os EUA e a Argentina, neste ano 2012/13, não conseguiram obter a safra inicialmente esperada, embora o Brasil esteja apontando para uma safra recorde. Assim, os patamares de preços internacionais, com base em Chicago, deverão permanecer ao redor dos excelentes valores de US$ 14,00/bushel, particularmente no primeiro semestre de 2013.

Quanto ao ano de 2013/14, a tendência pode se inverter se as safras mundiais de soja forem boas. Isso permitirá melhorar os estoques finais e as cotações recuariam para níveis ao redor de US$ 12,50/bushel (importante se faz salientar que, em seu Fórum Outlook de fevereiro passado, o USDA apontou para preços médios da oleaginosa de apenas US$ 10,50/bushel para 2013/14).

Em termos de Brasil, todavia, o quadro poderá ser mais severo já nesta safra em razão dos grandes problemas de logística que temos. Nossos portos não conseguem escoar a soja na cadência necessária, levando a crescentes estoques internos quando de safras cheias como a deste ano. Ora, isso tende a baixar os prêmios nos portos, com consequência direta no recuo dos preços finais recebidos pelos produtores rurais.

A situação nesse aspecto é tão séria que “não se trata mais de saber quanto o Brasil produzirá de soja mas sim de quanto ele irá conseguir embarcar”. Dito de outra forma, nossa capacidade de exportação chega a 73 milhões de toneladas nos meses em que temos a disponibilidade de grãos para a venda externa (soja e milho). Para darmos conta deste volume, nossos portos teriam que trabalhar em um nível de eficiência ao redor de 90%. Todavia, no máximo temos chegado a um nível de eficiência de 75%. Ou seja, em anos de safra cheia, como este de 2013, não se consegue exportar toda a produção disponível no tempo adequado. Isso significa sobra interna de produto, prêmios mais baixos nos portos e preços nacionais para soja e milho mais baixos aos produtores rurais.

Se a infraestrutura em geral deste país não melhorar, o que não se consegue rapidamente, nossa produção tende a ficar parcialmente parada. Caímos então numa contradição fundamental: aumentamos a produção, porém, não temos capacidade de escoamento suficiente, sem falarmos em armazenagem. Esse fato coloca o aumento de produção como uma “Espada de Dâmocles” sobre as cabeças dos produtores brasileiros, pois acaba jogando contra a melhoria de renda dos mesmos, embora o mundo continue a demandar cada vez mais produtos primários, em especial soja e milho.

Em síntese, o futuro pode ser promissor, porém, o mesmo depende do equacionamento estrutural de enormes gargalos que ainda persistem no país e que não estão sendo suficientemente atacados pelo poder público. E essa realidade já supera uma década.
Fonte: Imprensa Expodireto

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