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08h25

CLIMA: O INSUMO INDISPENSÁVEL

POR: Marco Antonio dos Santos, Eng° Agrônomo/Agrometeorologista, SOMAR Meteorologia

A maioria dos produtores nunca pensa no clima ou como ele irá se comportar na safra, quando chega a hora das compras. Quase que a unanimidade só pensa em que semente irá adquirir ou que fertilizantes ou defensivos irão comprar para a safra. Porém, de todos esses insumos tão importantes para o sucesso do produtor, o clima é sem duvida o mais importante, contudo, infelizmente não dá para ir a loja e adquiri-lo.

Um exemplo típico disso é as perdas que o excesso de dias chuvosos vêm causando sobre a safra de soja no Mato Grosso e a seca no sul do Brasil. Penso que ninguém plantou alguma variedade de soja, cujas principais características sejam uma maior tolerância ao excedente hídrico só porque sabia que o verão seria extremamente chuvoso. Mas, como meu mestre em agrometeorologia, Marcelo Bento Paes de Camargo, ensinou-me, o clima é a base de toda a cultura. Sem ele nada adianta ter a melhor variedade, melhor solo e a melhor tecnologia, se o clima não ajudar...

Veja o que aconteceu com os produtores norte-americanos em 2012. No inicio da safra – Março/12, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgava que a safra seria recorde naquele ano, fato que só não foi confirmado, mas também causou sérios danos ao mercado e, principalmente, ao abastecimento mundial de grãos, com reflexos até hoje. No Brasil, mesmo o Centro-oeste e Sudeste, tendo em 2012 um clima excepcional para os grãos, as Regiões Sul e Nordeste sofreram os impactos terríveis da seca, gerando enormes prejuízos. E é esse clima de incerteza que move o mercado hoje em dia. Ministrando uma palestra num dia desses em São Paulo, CEO de uma grande trade proferiu o seguinte comentário: “O mercado está a cada dia muito mais climático”. E isso é uma verdade. A cada susto que o clima nos prega, seja positivo ou negativo, rapidamente o mercado o absorve e transfere aos preços das commodities, levando a queda ou elevação de seus preços no cenário mundial.

E para que não sejamos pego nessa ciranda climática, o acompanhamento das condições climáticas, não só da nossa região, como em todo o Brasil e inclusive no Mundo, faz-se cada vez mais necessário. Com o advento da tecnologia e a aquisição de supercomputadores, os modelos climáticos estão cada vez mais precisos e confiáveis. O grande problema no Brasil ainda continua sendo a aferição desses parâmetros, ou seja, Estações Meteorológicas. Elas não são capazes de fazer a previsão, mas servem de base para que os modelos consigam ver onde estão errando e onde estão acertando e ficar cada vez mais precisos em suas decisões. Só como um exemplo disso, no Estado do Mato Grosso, grande celeiro brasileiro, são apenas 22 Estações para cobrir todo o território mato-grossense, e de vez em quando, uma ou outra quebra e fica meses desligada até que seja, novamente, inserida na rede. Por causa do baixo número de Estações meteorológicas, 80% das localidades brasileiras não são cobertas, o que deixa os modelos à cega. Fazendo um comparativo com os Estados Unidos, todas as cidades possuem mais de uma estação, o que torna os modelos muito mais eficientes, já que são abastecidos diariamente com os dados meteorológicos. Você deve estar se perguntando quanto custa para se ter uma estação dessas, hoje estão entre 7 a 10 mil dólares. Preço irrisório quando comparado com os benefícios que elas nos trazem.

Além da falta de estações meteorológicas, ainda temos que lidar com os fenômenos climáticos El Niño e La Niña que tanto mexem nos regimes de chuvas e temperaturas do planeta. Dependendo da época e intensidade na qual aparecem, podem causar sérios dados ou até mesmo benefícios à agricultura. O aparecimento do El Niño no meio do ano faz com que as chuvas retornem mais cedo ao Centro-oeste e Sudeste, mantendo o regime de chuvas na forma de pancadas, principalmente de final e tarde, além disso, no Sul do Brasil não ocorre os grandes períodos de seca. Porém, o Nordeste sofre com os longos períodos mais secos. Já a La Niña, por sua vez, mantem um regime de chuvas bem mais regular sobre o Nordeste, mas leva a seca do Sul do Brasil. No Centro-oeste e Sudeste, após um atraso do retorno das chuvas na primavera, o verão é extremamente chuvoso, com longos períodos de invernadas, como os visto esse ano. E esses fenômenos climáticos provocam mudanças nos regimes de chuvas e temperaturas também na América do Norte, África e Ásia. Causando danos ou benefícios à produção agrícola dos países desses continentes. E consequentemente mexendo nos preços das commodities.

Mas, acima de tudo isso, está uma variável ainda mais drástica que é a Oscilação Decadal do Oceano Pacífico, regido por inúmeros fatores, sendo um deles, a atividade solar. Quando o sol entra numa fase mais fria, a perspectiva para os próximos anos é que ocorra muito mais La Niñas do que EL Niños e isso têm seus impactos, como reduções nos volumes anuais de chuvas, temperaturas mais baixas do que o normal, o mesmo acontece quando essa Oscilação está positiva, ou seja, quando o sol está mais quente, imitindo mais radiação solar. Quando isso acontece esperasse mais El Niños do que La Niñas.

E acabamos de entrar numa nova fase fria, igual a que foi observada entre os anos de 1947 a 1976, quando o Brasil registrou um decréscimo de 10 a 30% nos volumes anuais de chuvas, além da uma maior ocorrência de geadas. Termos então que mudar nossa maneira de produzir? Não. Apenas teremos que analisarmos melhor as previsões meteorológicas de médio e longo prazo, já que numa fase mais fria, os volumes totais de chuvas nas estações de transição – primavera e outono – deverão ficar abaixo da média, na maioria dos anos. Sendo que no Verão as chuvas irão ficar mais concentradas no Centro-oeste e Sudeste e no inverno no Sul e Nordeste do Brasil. Isso poderá trazer sérias consequências para a geração de energia elétrica. Além de que o uso de variedades de ciclo mais curto poderá ser a chave para o sucesso em anos que as características climáticas sejam essas.

Sendo agora um curto espaço de tempo, isto é, para o termino da safra 2012/13, a tendência, segundo os modelos meteorológicos é que essa segunda metade do verão e todo o outono ainda sejam com chuvas, porém, no outono os volumes de chuvas deverão ficar abaixo da média no Centro-oeste e Sudeste, o que irá beneficiar o milho e algodão safrinha. E no Sul as chuvas irão retornar no outono à região, promovendo boas condições para as culturas de inverno, como o trigo, entretanto, em anos com uma anomalia negativa das temperaturas do Oceano Pacífico, há uma maior probabilidade de que ocorram geadas mais severas. Todavia, a previsão exata da ocorrência de uma geada e sua magnitude só é precisa com 72 horas de antecedência, antes disso é só especulação. No Nordeste, esse restante do verão e todo o outono serão com volumes de chuvas muito próximos a média climatológica. E a safra 2013/14, como será? E os Estados Unidos, terá mesmo um ano de seca, como vem sendo divulgado por algumas mídias? Essas são perguntas difíceis de serem respondidas, com tanta antecedência, essas analises só serão melhores interpretadas com 90 dias de antecedência e não com 120 ou até 150 dias. Qualquer fato a ser proferido agora poderá soar como mera especulação. Deixamos isso, portanto, para falarmos mais perto da safra Norte-Americana e Brasileira. Combinado?!

Para quem não quer perder nada sobre o que está acontecendo e o que acontecerá com o clima no Mundo, no Brasil e é lógico, na sua Região, acesse os diversos sites meteorológicos que estão disponíveis na internet, como CPTEC, Somar, NOAA entre outros. Além disso, fique por dentro nos boletins meteorológicos divulgados diariamente nas TVs, que servem de apoio a você produtor que leva a sério a arte de produzir alimento.
Caso queira mais informações sobre o clima e suas influencias na produção agrícola, envie um email para mim, marcoantonio@met.com.br. Boa Safra!

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