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08h29

INCERTEZA ECONÔMICA LEVA PRODUTOR A RETER VENDA DE SOJA NA ARGENTINA

Produtores estão dispostos a interromper as vendas como forma de protesto à política oficial.

O volume de soja 2012/2013 negociado pelos produtores argentinos é 35% inferior ao de igual período do ciclo 2011/2012. Segundo dados do Ministério de Agricultura, somente 6,6 milhões de toneladas da soja nova foram comercializadas até o momento. Os agricultores seguram as vendas por preocupações com a economia do país e uma possível desvalorização do peso. Os produtores estão dispostos a interromper as venda como forma de protesto à política oficial. A manobra gera reação no governo de Cristina Kirchner, que ameaça com mais intervenção no mercado.

As associações que representam os produtores rurais argentinos reunidas na chamada Mesa de Enlace realizaram assembleia na sexta, dia 15, para discutir eventual paralisação da comercialização de grãos no final de março. Nos próximos dias as entidades vão realizar novas assembleias para deliberar o assunto. O protesto pode complicar o caixa do governo em um ano eleitoral – a Frente pela Vitória (FPV), da presidente Cristina Kirchner, busca mais cadeiras no Senado e na Câmara para reformar a Constituição Nacional e permitir sua terceira candidatura.

As exportações da oleaginosa são a principal fonte de entrada de divisas ao país, para abastecer o escasso mercado cambial doméstico. Com uma produção estimada em 50 milhões de toneladas e um preço internacional ao redor de US$ 524 a tonelada (valor apontado pelo mercado na sexta-feira), a safra argentina de soja está estimada em US$ 26,2 bilhões, que representariam uma receita de US$ 9 bilhões para o Tesouro. Os US$ 17,2 bilhões restantes representam importante injeção de dólares ao mercado cambial, já que os exportadores são obrigados a vender no mercado doméstico as divisas obtidas com as vendas.

INTERVENÇÃO DO GOVERNO

Depois que o presidente da Sociedade Rural Argentina, Luis Etchevehere, disse à imprensa local que os produtores têm a intenção de fazer um locaute por tempo indeterminado, o governo revidou com insinuações de que poderia criar uma Junta Nacional de Grãos. Na prática, a junta tem o poder para fixar os preços e ser o único comprador dos produtores e autorizado a exportar as oleaginosas e cereais.

O presidente da Federação Agrária Argentina (FAA), Eduardo Buzzi, afirmou que essa possibilidade "nas mãos do kirchnerismo seria um perigo". Ele explicou que os produtores rurais não estão pedido a desvalorização do peso para melhorar a competitividade do setor porque isso não solucionaria o problema. Buzzi disse que a reivindicação é para que o governo revise outras políticas, como o elevado nível de retenções.

A soja está taxada com alíquota de 35%. Além disso, no ano passado, os governos provinciais aumentaram os impostos territoriais rurais. Os produtores reclamam ainda das distorções na formação de preços provocadas pela intervenção oficial.

– O governo mostra uma mistura muito perigosa de inépcia e arrogância – afirmou Buzzi em entrevista a uma rádio portenha.
Fonte: Estadão

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