Comentários referentes ao período entre 14/12/2012 a 07/02/2013.
Os preços do trigo em Chicago, nos últimos quase 60 dias, tiveram um comportamento baixista, embora não acentuado. O fechamento desta quinta-feira (07/02) ficou em US$ 7,56/bushel, após US$ 7,93 no dia 13/12/2012. A média de dezembro/12 ficou em US$ 8,07, enquanto a média de janeiro/13 recuou para US$ 7,68/bushel.
Na prática, o mercado mundial está relativamente acomodado, na esteira da confirmação de uma safra estadunidense, confirmada pelo USDA, em seu relatório de janeiro/13, em 61,8 milhões de toneladas. A safra mundial sofreu um pequeno recuo, ficando em 654,3 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais se mantiveram em 176 milhões para o ano 2012/13.
Paralelamente, as vendas líquidas dos EUA, para o ano 2012/13, iniciado em 1º de junho passado, atingiram a 293.600 toneladas na semana encerrada em 24/01. O Peru foi o principal comprador, com 61.400 toneladas. Já para o ano 2013/14, tais vendas atingiram a 94.300 toneladas na mesma semana, sendo a Nigéria o principal comprador com 80.000 toneladas.
Por sua vez, as inspeções de exportação estadunidenses, na semana encerrada em 31/01, atingiram a 413.820 toneladas, acumulando no ano comercial 2012/13 um total de 16,3 milhões de toneladas, contra 18,4 milhões em igual período do ano anterior.
Enquanto isso, o Canadá anuncia um aumento de 6,3% em sua nova área de trigo, com a mesma podendo chegar a 10,2 milhões de hectares, elevando a produção final, em clima normal, acima de 27 milhões de toneladas no atual ano comercial, contra 25,3 milhões em 2011/12.
Todavia, apesar de uma certa estagnação no mercado mundial, a oferta de trigo de qualidade está restrita em muitas partes do mundo neste momento. Além do Mercosul, onde a Argentina e parte do Rio Grande do Sul mais sofreu com intempéries, também a Rússia, a Ucrânia e outros países europeus acusam problemas.
Nestas condições de oferta, os preços no Mercosul se mantêm elevados. No Up River argentino, a tonelada FOB fechou a semana em US$ 355,00 na compra, enquanto em Bahia Blanca o produto chega a US$ 360,00/tonelada. Tais preços já foram mais elevados no início de janeiro. No Uruguai, a tonelada ficou em US$ 350,00 na compra, enquanto no Paraguai o valor recuou para US$ 315,00. Já o trigo brasileiro para exportação esteve indicado a US$ 330,00/tonelada FOB, o que equivale a R$ 39,20/saco ao câmbio deste início de fevereiro.
No Brasil, diante da escassez de oferta, em especial de produto de boa qualidade, os preços continuaram subindo desde dezembro/12. Esta primeira semana de fevereiro/13 terminou com a média gaúcha, no balcão, valendo R$ 32,58/saco, enquanto os lotes ficaram em R$ 690,00/tonelada ou R$ 41,40/saco. No Paraná, os lotes valem ainda mais para o produto superior, com o trigo variando entre R$ 780,00 e R$ 805,00/tonelada, ou seja, entre R$ 46,50 e R$ 48,30/saco. Em outras palavras, excepcionalmente o preço do trigo se aproxima muito dos valores que tendem a ser pagos pela nova safra de soja.
Tal realidade vai confirmando a tendência apontada no segundo semestre passado, porém, de forma ainda mais positiva do que se imaginava. Particularmente para os produtores paranaenses, que praticamente não sofreram com intempéries na safra passada, a rentabilidade vem sendo positiva, superando até mesmo o milho e o algodão (cf. Safras & Mercado).
Esta conjuntura, que vem elevando os preços da farinha e de seus derivados junto ao consumidor final, desde novembro passado, deverá levar a Conab a realizar leilões de venda de estoques ainda neste mês de fevereiro. Todavia, o mercado julga que a oferta pública é insuficiente. Por outro lado, os preços só não sobem mais nesse início de fevereiro porque boa parte dos moinhos está estocada, embora alguns, diante dos altos preços da matéria-prima, vêm comprando o produto no estilo “da mão para a boca”, para minimamente operarem.
Ao mesmo tempo, como já anunciado pela grande imprensa nacional, a pressão inflacionária provocada pelo trigo levou o Brasil a reduzir, no final de janeiro, a zero a Tarifa Externa Comum (TEC) para o trigo oriundo de países de fora do Mercosul. Isso se dará entre 1º de abril e 31 de julho, para um volume pré-estabelecido de um milhão de toneladas de trigo, podendo se estender para mais um milhão.
Enfim, no próximo dia 04 de março será realizada reunião entre os governos brasileiro e argentino visando definir a quantidade de trigo que os vizinhos terão para fornecer ao Brasil, diante da forte quebra de safra que eles tiveram. Há fortes dúvidas quanto a capacidade argentina de abastecer o Brasil neste ano.
Enfim, em termos de paridade de importação, o trigo argentino, cotado ao redor de US$ 360,00/tonelada FOB, na venda, nos portos, chega posto nos moinhos paulistas, já considerando as despesas de frete, taxas e o atual câmbio, a US$ 828,00/tonelada. Com isso, o trigo do norte do Paraná, para chegar ao mesmo local, poderia ser vendido a R$ 719,00/tonelada (cf. Safras & Mercado), ou seja, bem abaixo do que vem sendo negociado no mercado interno paranaense. Isso chama a atenção e pode ser um indicativo de que os atuais preços do cereal tenham chegado a um limite, havendo tendência de um recuo consistente futuramente. Entretanto, tudo irá depender da capacidade argentina em nos abastecer nos próximos meses.
Fonte: CEEMA- Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário.