SITUAÇÃO MUNDIAL
O ano de 2012 foi atípico para o mercado de milho. Os problemas de estiagem que prejudicaram as lavouras no hemisfério sul no início do ano recrudesceram no verão do hemisfério norte, resultando em uma das maiores secas na história dos Estados Unidos. Excetuando-se a China, todos os grandes países produtores de milho sofreram em um dado momento com a seca, até mesmo o Brasil, que obteve uma produção recorde no ano, foi atingido pela falta de chuva na região Sul. Com tantos países produtores enfrentando restrições, era provável que houvesse problemas de oferta mundial ao longo do ano e o resultado prático dessa situação foi o aumento de preços. Nos Estados Unidos, o preço do milho atingiu patamares nunca antes vistos, pela primeira vez passou de US$ 8 o bushel (US$ 314,95 por tonelada) e alguns analistas chegaram a projetar o preço na casa de US$ 10 (US$ 393,68 por tonelada), caso as previsões mais pessimistas se confirmassem.
Passado o susto da safra 2012-2013 no hemisfério norte, algumas estimativas indicam que a recuperação da produção mundial pode se iniciar ainda no verão do hemisfério sul. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), após a seca da safra 2011-12, a produção argentina de milho deve aumentar para 27,5 milhões de toneladas, recorde para o país, na safra 2012-13. Tal colheita seria 31% superior à produzida na safra anterior, mas esse número deve ser analisado com ressalvas e vejamos a razão disso. Em agosto de 2012, o Financial Times noticiou que a área plantada de milho em 2012-2013 na Argentina deveria ser 20% inferior aos 3,87 milhões de hectares plantados na safra 2011-12. A justificativa para a queda seria que a seca deixou os produtores argentinos endividados e dado que o milho possui uma semeadura custosa, eles deveriam passar a plantar soja, cujos preços internacionais tornaram ainda mais atrativa a mudança. O último levantamento da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, de janeiro, indica que a queda na área plantada prevista foi de 12,14%, 3,4 milhões de hectares. Adicionalmente, o país sofreu com fortes chuvas em novembro e dezembro, o que atrasou o plantio nas áreas destinadas ao milho e pode diminuir a produtividade. Por isso, a projeção recorde do USDA deve ser vista com cuidado.
Apesar de algumas incertezas em relação à safra 2012-13 de milho no hemisfério sul, as estimativas não devem ser encaradas apenas como uma interrogação, pois há uma tendência de recuperação da produção mundial. Nesse sentido, as projeções do Internacional Grains Council (IGC) para os próximos 5 anos indicam um aumento de 18,2% da produção mundial até 2017-18, que pode beirar a casa de um bilhão de toneladas, mais precisamente 981 milhões. Entretanto, já para 2013-14 espera-se uma produção na casa de 916 milhões de toneladas, 10,3% superior ao estimado para 2012-13. Um ponto importante nas projeções do IGC é que, apesar do aumento considerável na produção, o aumento do consumo mundial deve ser superior à oferta, chegando a 988 milhões em 2017-18, o que é um indicativo de que os preços continuarão altos nos próximos anos. Entretanto, para 2013, a redução no consumo mundial deve estabilizar os preços, pelo menos até os resultados da colheita norte-americana de 2013 ficarem mais bem delineados.
SITUAÇÃO INTERNA
A expectativa é que a safra brasileira de milho em 2012-13 seja tão grande quanto a anterior. Segundo o levantamento de safras da Conab em dezembro, a produção brasileira para o próximo ano agrícola deverá ficar na casa dos 71,9 milhões de toneladas, uma queda de 1,4% em relação à antecedente. Como a segunda safra ainda não começou a ser plantada, esse número é meramente especulativo. No momento há somente um fato concreto em relação à próxima safra de milho, que é a queda da área plantada na safra verão, 5,5% segundo a Conab. Entretanto, apesar da diminuição da área, espera-se que a produção tenha um acréscimo em decorrência do aumento de produtividade na região Sul, que enfrentou seca no verão passado.
Em relação à segunda safra, as incertezas são maiores, mas podemos esperar duas coisas: i) a área plantada deverá ser maior, apesar de a projeção da Conab no momento só repetir o resultado anterior e ii) a produtividade deverá ser menor. A razão para o primeiro fato é que a diminuição da área de milho na safra verão foi causada pela concorrência com a soja, cujos preços estão ainda mais atrativos que os do milho. O aumento da área plantada da soja no verão abre a possibilidade de aumento da área plantada de milho no inverno na sucessão de culturas. Quanto ao segundo fato, a produtividade da segunda safra de milho em 2012 teve um acréscimo de 40% em relação a 2011, mas isso se deveu a fatores climáticos extremamente favoráveis e que não devem se repetir em 2013. Um fato ilustrativo dessas incertezas é que os levantamentos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontavam para um aumento de 10% da área de milho em Mato Grosso na segunda safra, mas a irregularidade das chuvas no estado atrasou o plantio da soja, e até demandou o replantio em algumas regiões. A consequência para o milho deverá ser uma queda na produtividade e diminuição na área plantada no inverno para que o produtor possa aproveitar a janela ideal de cultivo da soja. Quanto aos preços, assim como no mercado internacional, eles devem permanecer altos até o meio do ano, quando se terá um melhor delineamento da safra nos Estados Unidos.
Rubens Augusto de Miranda e João Carlos Garcia - Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.